Produtores rurais relatam invasões e crimes ambientais na Transamazônica, sudoeste do Pará

Produtores rurais enfrentam ameaças, destruição ambiental e ineficiência judicial na luta por suas terras.

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Produtores da região da Transamazônica, no sudoeste do Pará, denunciam invasões criminosas em suas propriedades, onde áreas de reserva legal têm sido destruídas por derrubadas e queimadas ilegais.

Na Fazenda Junqueira, localizada no travessão do km 140 Sul, zona rural de Uruará, as invasões começaram em 2021 e se tornaram mais frequentes. De acordo com os proprietários, os invasores, em sua maioria, já residem na região e possuem outras terras. Alguns seriam comerciantes da Vila Alvorada, próxima às áreas invadidas.

“A fazenda é totalmente regularizada, com documentação e atividades licenciadas pelos órgãos ambientais. Geramos 40 empregos diretos com a criação de gado de corte e produção de cacau. É revoltante ver o que está acontecendo. Somos obrigados a preservar 80% da floresta, mas os invasores destroem tudo”, lamentou o administrador da propriedade.

Foto: Wilson Soares / A voz do Xingu

Desde o início das invasões, mais de 800 hectares de floresta foram destruídos, causando danos ambientais graves. Além disso, áreas produtivas foram invadidas, cercas e porteiras danificadas, e materiais furtados. Recentemente, um grupo de oito homens foi até a sede da fazenda para ameaçar os responsáveis.

“Eles nos acusaram de violência contra uma liderança local, o que é completamente falso. Desde o início, recorremos às autoridades e denunciamos os crimes. Nunca houve qualquer ato ou ameaça de nossa parte. Registramos um boletim de ocorrência e já protocolamos o pedido de reintegração de posse”, explicou o administrador.

Ação das autoridades

Desde as primeiras denúncias, equipes da Operação Curupira, criada pelo Governo do Pará para combater o desmatamento, visitaram o local e identificaram várias irregularidades. A Delegacia Especializada em Conflitos Agrários (DECA) de Altamira também realizou operações na região, chegando a prender um invasor em flagrante com arma de fogo ilegal e motosserra.

Em 2024, uma perícia da Polícia Científica constatou a derrubada de espécies protegidas, como castanheiras (Bertholletia excelsa). Segundo o laudo, árvores foram cortadas propositalmente para dificultar o acesso dos proprietários às áreas ocupadas. A ocupação, antes próxima à Vicinal do km 140 Sul, avançou para o interior das propriedades, dificultando o trabalho de equipes de segurança e fiscalização.

Termo de autuação do IBAMA contra a Associação dos Pequenos Produtores de Selva de Pedra

O IBAMA também aplicou multas à Associação dos Pequenos Produtores Selva de Pedra, identificada como responsável pelas invasões e destruição ambiental. A área foi embargada, mas as atividades ilícitas continuam.

Preocupação dos produtores rurais

O Sindicato dos Produtores Rurais de Altamira (Siralta) manifestou preocupação com a situação e cobrou ações mais firmes do Poder Judiciário e do Governo do Estado.

“As invasões violam o direito de propriedade. Existem meios legais para que essas pessoas reivindiquem terras, como buscar apoio do Incra. É inaceitável que propriedades regularizadas sofram esse tipo de ataque”, afirmou Jorge Gonçalves, presidente do Siralta.

Jorge Gonçalves – presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Altamira – Siralta / Foto: Wilson Soares

Gonçalves destacou que o sindicato tem levado o problema às autoridades, buscando soluções que garantam segurança aos produtores que há anos investem na região.

Os proprietários das áreas invadidas aguardam uma resposta rápida da Justiça para a reintegração de posse. “Essas ações na Justiça são muito lentas, e isso só piora os prejuízos. Esperamos que a situação seja resolvida de forma pacífica o mais rápido possível”, concluiu o administrador da Fazenda Junqueira.

Com informações de A voz do Xingu

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