Um estudo conduzido por pesquisadores da USP, Santa Casa de São Paulo e Instituto Adolfo Lutz revelou que garimpeiros que atuam no sudoeste do Pará apresentam maior vulnerabilidade à infecção pelo HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), em comparação com a população geral. A pesquisa foi realizada na região de Itaituba, onde se concentra a maior área de extração de ouro do país, e contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Enquanto a prevalência do HIV na população brasileira em geral é inferior a 1%, em grupos como profissionais do sexo e homens que fazem sexo com homens (HSH) ela supera 5%. O estudo buscou compreender como as chamadas “populações-ponte” — como os garimpeiros, que mantêm contato com esses grupos mais vulneráveis — podem contribuir para a disseminação de ISTs na sociedade.
O projeto intitulado “Saúde vale ouro” aplicou testes para HIV, hepatites B e C, sífilis e malária em homens e mulheres residentes em áreas de garimpo, além de realizar entrevistas e avaliações de saúde física. As ações aconteceram por cinco semanas em 2024, após uma fase preparatória iniciada no ano anterior, com visitas a municípios e comunidades da região do Tapajós.
A presença de cabarés nas chamadas “corrutelas” — pequenos núcleos urbanos próximos aos garimpos — foi identificada como um dos fatores que aumentam a vulnerabilidade da população local. De acordo com os pesquisadores, muitas mulheres exercem o trabalho do sexo de maneira pontual e não necessariamente se identificam como profissionais da área, o que torna o mapeamento do risco mais complexo.
A pesquisa também apontou a malária como um importante agravo de saúde na região, muitas vezes associada às precárias condições de moradia nos garimpos. O estudo incorporou ainda dados sobre saúde mental, uso de álcool e drogas e fatores de risco para doenças metabólicas.
Casos positivos para HIV e outras ISTs identificados durante a pesquisa foram encaminhados para tratamento na rede pública de saúde. Em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Itaituba, agentes comunitários de saúde e de endemias apoiaram a testagem e o encaminhamento dos pacientes.
Segundo o professor Aluisio Segurado, da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do estudo, os resultados finais serão publicados ainda este ano, mas as análises preliminares já indicam uma prevalência superior de ISTs entre os garimpeiros.
“Esse trabalho reforça a importância de se levar atenção básica e ações de prevenção às populações que vivem em áreas isoladas e de difícil acesso, mas que enfrentam riscos significativos à saúde”, afirmou Segurado.
Com informações da Agência Fapesp.
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