A volta de Jatene e a aliança com Daniel para as futuras eleições ao governo e senado

Ao comemorar o aniversário de 77 anos, o ex-governador Simão Jatene recebeu uma comitiva de políticos da chamada "República de Ananindeua", a qual já foi comandada pelos ex-prefeitos Manoel Pioneiro e Helder Barbalho, mas que hoje está sob o comando do prefeito Daniel Santos, pré-candidato ao senado ou ao governo do Pará, em uma "dobradinha" com seu ex-desafeto.

Simão Jatene Vereadores Vice-Prefeito Ananindeua Daniel Santos
Ao lado do vice-prefeito de Ananindeua e de vereadores da base de Daniel Santos, o ex-governador Simão Jatene esteve na Câmara Municipal de Ananindeua, onde deixa claro a aliança eleitoral com o prefeito Daniel Santos.

A presença do governador Simão Jatene na Câmara Municipal de Ananindeua (CMA), na companhia do vice-prefeito Hugo Atayde (PSB) e de vereadores da base aliada do prefeito Daniel Santos (PSB) na casa de Simão Jatene, na manhã desta quarta-feira (02), finalmente revela o plano que vem sendo discutido desde 2024, quando o ex-governador tucano esqueceu do que ocorreu no passado e conversou com o prefeito do segundo maior município paraense, para juntos tramarem a “volta do anzol”, como ficou dito à época por um intermediador da conversa.

A ideia é simples e calculista: dependendo da relevância de ambos perante a opinião pública, Jatene e Daniel formam uma aliança para disputar os cargos de governador e senador nas eleições de 2026. Com duas vagas ao senado, a dupla avalia que uma das vagas é quase garantida para Helder Barbalho (MDB), que deverá pedir licença do cargo de governador para disputar o senado ou a vice-presidência da República, caso seja escolhido por Lula. Se isso ocorrer, o irmão de Helder, atual ministro das Cidades, Jader Filho (MDB) deve disputar a vaga ao senado e manter a família em destaque no cenário político nacional. O deputado estadual e atual presidente da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), Chicão (MDB), seria o outro nome de Helder para o senado.

Mas e o atual senador Jader Barbalho (MDB), pai de Helder e Jader Filho? Bom, o que especula-se é que embora ele declare estar plena condição física e intelectual para disputar a reeleição, seus filhos e demais familiares tentam convencê-lo de que “já deu” e que chegou a hora de se aposentar da carreira política. O mesmo vale para a deputada federal Elcione Barbalho (MDB)? Não sabemos, mas ao que tudo indica, sim.

Logo, a outra vaga ao senado, poderia ser de Daniel ou de Jatene, dependendo do humor dos eleitores, o que será mensurado nas pesquisas que serão realizadas até o pleito, somadas aos resultados das investigações que pesam contra Daniel, acusado de comandar esquemas que resultaram em supostos desvios de recursos públicos envolvendo o hospital Santa Maria, o qual era sócio em Ananindeua e o Instituto de Assistência à Saúde dos Servidores do Estado do Pará (IASEP), onde uma agulha que em qualquer farmácia custa R$ 0,35, chegou a ser cobrada por R$ 18,10, a unidade, o que junto com outros insumos hospitalares, resultou em uma cobrança milionária aos cofres públicos e o pagamento ao hospital particular que Daniel era sócio e que, de um dia para o outro, deixou de ser.

Ideologia, eu quero uma pra viver

Depois de ter ficado inelegível por 08 anos, tendo perdido seus direitos políticos devido uma condenação por compra de votos com o uso do Cheque Moradia, Jatene havia se recolhido da vida pública desde o fim das eleições de 2022, quando apoiou abertamente a campanha de reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e batia de frente contra a família Barbalho, mesmo que evite citar os nomes dos políticos que há anos nutre inimizade, embora tenha sido secretário de Jader Barbalho, quando este foi governador do Pará.

Já Daniel, apesar de não declarar apoio de forma explícita a Bolsonaro, tem em sua base de apoio diversos bolsonaristas assumidos, como o deputado federal Éder Mauro (PL) e JK do Povão, candidatos a prefeito de Belém e Santarém, respectivamente, apoiados pelo prefeito de Ananindeua nas eleições de 2024. No fim do período de votação, os dois foram derrotados por candidatos do MDB, apoiados pelo governador Helder Barbalho.

Embora tenha alojado petistas e comunistas em secretarias municipais e atualmente estar filiado ao PSB (Partido Socialista Brasileiro), Daniel inclina-se ao bolsonarismo e ao mesmo tempo flerta com a esquerda paraense com maestria, sem declarar sua ideologia e fugindo dos rótulos da polarização político-partidária hoje tão bem definida no país.

Sem o apoio do ex-prefeito Manoel Pioneiro (PSDB) e do deputado estadual Erick Monteiro (PSDB), que entre outros antigos aliados e que o ajudaram a chegar onde chegou, Daniel Santos vem rompendo alianças ao sabor da sua vontade, sendo apontado como um político que não cumpre seus acordos políticos e empresariais. Outras polêmicas apontam um rápido enriquecimento, coma a aquisição de fazendas, prédios e até aeronaves, que utiliza com sua esposa para viagens para outros estados e para o interior do Pará, onde visita aliados e apoiadores em busca de voos mais altos na política.

Daniel se impõe perante aliados como o único capaz de enfrentar a candidata à sucessão de Helder Barbalho, a atual vice-governador Hana Ghassan (MDB), que mesmo sem nunca ter disputado uma eleição, já aparece em empate técnico com Daniel e Jatene, segundo um estudo eleitoral realizado pelo instituto DOXA, que reuniu dados de pesquisas realizada durante o ano de 2024, em 84 municípios, ouvindo 33 mil eleitores paraenses.

A presença de Jatene rodeado de vereadores de Ananindeua marca o retorno do ex-tucano, que já foi abandonado por seu ex-amigo Almir Gabriel, que o empoderou como nunca haviam feito e de quem foi secretário todo poderoso e depois foi por ele impedido de tentar a reeleição. Em um passado recente, Almir preferiu apoiar a então candidata Ana Júlia (PT) e o chamou de “preguiçoso”. Jatene também foi apunhalado por Daniel Santos, em 2018, quando este último ainda era filiado ao PSDB, ao invés de manter o apoio a Márcio Miranda (DEM), decidiu apoiar Helder no segundo turno das eleições, mantendo uma aliança que durou até meados de 2024, quando o governador pediu ao seu aliado para indicar o vice-prefeito na reeleição de Daniel e este se recusou a atender o pedido, justamente de quem o ajudou na eleição para prefeito de Ananindeua e em diversas obras e serviços realizados pelo governo do estado ou em parceria com a prefeitura.

E por falar em Márcio Miranda, com a presidência do PRD (Partido Renovação Democrática), também tem realizado visitas ao interior do Pará, além de Brasília e outros estados brasileiros em busca de apoio para também disputar uma das vagas ao senado, assim como o senador Zequinha Marinho (PODEMOS) também tem feito, mas com mais intensidade por estar com mandato em vigor e ter uma base de apoio bem maior do que muitos dos que pleiteiam o tão sonhado e desejado cargo de senador da República.

Já o também senador Beto Faro (PT) é o menos preocupado, pois seu mandato iniciou em 2022 e ele ainda tem ainda tem mais quatro anos a partir das eleições de 2026 para continuar no senado, caso não seja nomeado ministro de Lula, abrindo espaço assim para seu primeiro suplente, Josenir Nascimento (PT), fiel escudeiro de Helder e que foi filiado no PT alguns poucos meses antes das eleições. Dessa vez, o deputado estadual Dirceu Ten Caten (PT) movimenta-se para também ser o candidato a senador dos petistas. Vale lembrar que nas eleições de 2022, Beto Faro teve que disputar e venceu a escolha do PT para o senado, sob o choro de Paulo Rocha que era senador, mas que foi impedido pelo diretório estadual de concorrer a reeleição, chamando Beto Faro de tudo que não presta, nos corredores do partido, claro.

Na época, Beto defendeu-se argumentando que não deu golpe em Paulo Rocha, mas tão somente fez o que disse que faria, depois de ouvir do companheiro de partido quer ele não concorreria à reeleição. Na época em que Paulo Rocha disse isso, Lula estava preso e o PT andava em baixa perante a opinião pública. Depois que Lula foi solto e tornou-se apto a disputar novamente a presidência, o então senador Paulo Rocha quis desfazer o que disse, mas já era tarde e Beto Faro fechou um acordo com Helder Barbalho, tornando-se candidato ao senado e acabou eleito.

Outro que também vislumbra ser candidato ao senado é o ex-deputado e hoje presidente estadual do Cidadania, Arnaldo Jordy, o qual apoiou a reeleição de Daniel Santos em Ananindeua e agora assiste o mesmo de “braços dados” com Jatene, pelo menos nos encontros “secretos” que ambos mantêm, segundo fontes do nosso jornalismo.

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