A Polícia Federal (PF) apura um possível esquema de influência política comandado pelo deputado federal Antônio Doido (MDB-PA) sobre a Polícia Militar e secretarias do governo do Pará. De acordo com mensagens de WhatsApp e documentos obtidos pela corporação e revelados pela Folha de S. Paulo, um coronel da PM atuava como operador direto do parlamentar, articulando transferências, nomeações e até uso de efetivo policial em ações político-eleitorais.
O militar citado é o coronel Francisco de Assis Galhardo, preso em 2024 e atualmente respondendo em liberdade. Segundo as investigações, ele mantinha contato frequente com o comandante-geral da PM, coronel José Dilson Melo Júnior, sempre em nome de Doido. Para a PF, havia complacência da cúpula da corporação em pedidos que contrariavam o interesse público.
As conversas analisadas mostram Galhardo interferindo diretamente na carreira de policiais. Em um dos diálogos, ele buscava punir um militar que fazia serviços para uma vereadora opositora do deputado. Em outro, pedia a mobilização de policiais para atividades ligadas à campanha eleitoral do parlamentar. Em tom revelador, o comandante-geral chegou a questionar sobre uma indicação: “Ele já combinou com o prefeito? Se não tiver combinado, melhor falar com o 01”.
Além da PM, a PF identificou articulações de Doido em secretarias estratégicas do estado: a Secretaria de Obras Públicas e a Secretaria de Administração Penitenciária.
Outro ponto levantado pela investigação foi a entrega de R$ 180 mil em espécie na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), em 2024, supostamente com a presença do deputado. O valor teria sido retirado de uma lotérica pelo coronel Galhardo, reforçando a suspeita de caixa paralelo.
Reações oficiais
Em nota, o Governo do Pará afirmou que movimentações internas da PM seguem critérios técnicos, como recomposição de efetivo, aposentadorias e questões médicas. Disse ainda que o coronel Galhardo está respondendo judicialmente e negou qualquer irregularidade envolvendo o secretário Benedito Ruy Cabral. A assessoria ressaltou que ele atende cidadãos e gestores apenas de forma institucional.
A defesa de Galhardo não foi localizada, e o deputado Antônio Doido não respondeu aos questionamentos enviados pela reportagem.
STF assume investigação
Por se tratar de um parlamentar federal, o caso foi remetido ao Supremo Tribunal Federal (STF). O inquérito teve origem em apurações sobre lavagem de dinheiro ligada a uma construtora da família de Doido, responsável por movimentar R$ 48,8 milhões em contratos com o governo estadual. A PF avalia que, além da influência financeira, o grupo comandado pelo deputado ampliava seu poder dentro da segurança pública do Pará.
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