O viés cognitivo da base popular do bolsonarismo

Normalmente vemos muitos intelectuais constatando que muitas pessoas da base da pirâmide social brasileira sendo caraterizados como pobres de direita, porque votam no bolsonarismo. Para efeito de informação, somente após a emergência de Bolsonaro na política brasileira tivemos um grupo que claramente se assume, ideologicamente como de direita. Até recentemente partidos claramente direitista se autodenominavam como conservadores ou centristas, a exemplo dos extintos PDS, ARENA, PFL, PTB, etc.

Em nossos estudos de ciência política, as categorias direita, esquerda e centra são de grande valia para caracterizarmos lideranças e partidos políticos a partir de seus comportamentos no poder legislativo, relativos a bandeira centrada ou na defesa de políticas sociais (esquerda) ou centrada em investimentos para empresários como sinônimo de crescimento econômico(direita).   Já o centro político defende mais os empresários e em escala pequena, os direitos sociais. 

Do ponto de vista da população, notadamente o eleitorado mediano brasileiro, que é conservador na política, porque foi historicamente formado pelas Ditaduras e Oligarquias, desde 1824, a população brasileira, não vota com base em referência em marcas, como direita, esquerda ou centro. O eleitorado brasileiro vota de formas muito complexas, onde nenhuma das teorias do comportamento eleitorado consegue explicar este comportamento eleitoral  de forma isolada.

Hoje podemos entender o eleitorado bolsonaristas enquadrados em vários modelos de comportamentos eleitorais:

1 – A elite familiar e partidária do bolsonarista é de extrema direita e como tal vota ideologicamente,

2 – Um segundo grupo de elite partidária e familiar bolsonarista, pode ser caracterizada como direita destemida. Esta direita é destemida porque não é extremista, mas fecha com a extrema direita, tendo Waldemar Costa Neto, Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado como seus maiores símbolos. São caracterizados como direita destemida, porque num contexto de um golpe de Estado, seriam suprimidos da vida pública, tal qual os deputados e senadores direitistas e conservadores do PSD , o foram em 1968, mesmo sendo apoiadores da Ditadura instalada.

 3 – Um terceiro grupo de apoiadores de Bolsonaro, são evangélicos , católicos e espíritas conservadores que estão apoiando o bolsonarismo baseado um comportamento assentado em valores éticos, religiosos e crenças e tradições judaico cristãs,  orientados por igreja, pastores e padres.

4 – Um grande grupo de classe média privada  com alto poder aquisitivo oriundas de todo o Brasil e em especial do sudeste e sul, e por uma classe média oriunda do setor público, também enriquecida que se enxergam como cidadãos de primeira classe, e que tem orgulho de desprezar a esquerda.

Podemos ver que o comportamento eleitoral da base bolsonarista é múltipla e complexa e nenhuma teoria isolada pode dar conta deste fenômeno político e eleitoral. Existe intelectuais que juram que descobriram a pólvora ao caracterizar todos os tipos de eleitores como passionais e sentimentais e que para influenciar o voto bastaria dominar a teoria emotiva da decisão do voto.

Muitos intelectuais de esquerda caracterizam esta ampla base de apoio e voto no bolsonarismo como pobres de direita. Esta denominação serviria caso imaginássemos o eleitorado do bolsonarismo como se fossem monolíticos e ideologicamente fechado com a direita. Na verdade o jogo é mais complexo, está em curso o controle político sistêmico e abrangente, daquilo que Antônio Gramsci denominou de hegemonia ético, moral, cultural, combinado com as ações conduzidas por costumes e valores tradicional, como asseverou Max Weber. Reverter este viés cognitivo do eleitorado é tarefa para especialistas. Os intelectuais de esquerda estão passando longe deste diagnóstico, pois parece que eles querem reverter este quadro com base em propaganda e marketing político e de gestão.

Esta constatação pode ser notada desde as eleições de 2018, manteve-se em 2022, se ampliou nas eleições de governadores e prefeitos por todo o Brasil e deverá chegar muito forte nas eleições presidenciais de 2026. O eleitorado de Lula, que chega a 35% em primeiro turno e 51% em segundo turno, com o apoio de parte do centro político, se baseia fundamente num comportamento racional de metade do eleitorado brasileiro e são baseados nos resultados do governo de Lula, que são muitos, no campo macroeconômico, educacional, saúde, agropecuária, políticas sociais compensatórias e construção de uma ampla infraestrutura logística para o desenvolvimento econômico e indústria.

Só Lula, neste momento pode enfrentar com chances de vitória este amplo bloco conservador no Brasil, denominado de eleitores bolsonaristas. Quem Bolsonaro apoiar em 2026 no Brasil, polarizará as eleições no curto e médio espaço de tempo. O eleitor de Lula, enquanto massa, não é socialista e nem de esquerda, vota nos resultados objetivos da gestão do presidente Lula. Podemos caracterizar este comportamento eleitoral do dos pobres brasileiros como um viés cognitivo, porque estão votando contra seus próprios interesses, votando mais com base   nas crenças, costumes e tradições do que com base em sua precária condição de vida, portanto, um comportamento eleitoral irracional baseado em uma hegemonia ético, moral, cultural e em valores conservadores. Como sair deste sinuca de bico? Com a palavra os filósofos e os cientistas políticos.

Edir Veiga- Professor de Ciência Política da UFPA.

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