Base criminosa no Pará: PF revela que organização ligada ao PCC criou rota alternativa para tráfico internacional de cocaína

Segundo a PF, com o aumento das apreensões e da pressão internacional, os criminosos estabeleceram uma nova base logística em Belém, capital paraense, visando driblar a vigilância portuária e manter o fluxo de entorpecentes para o exterior.

A Polícia Federal revelou novas informações sobre o funcionamento da organização criminosa alvo da Operação Narco Vela, deflagrada na última terça-feira (29), com destaque para a criação de uma rota alternativa de tráfico internacional de cocaína através do estado do Pará. O grupo é vinculado ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e passou a operar no Norte do país após intensificação da fiscalização no Porto de Santos (SP).

Segundo a PF, os traficantes inicialmente utilizavam lanchas que saíam do litoral paulista e abasteciam veleiros em alto-mar, que seguiam até a costa africana e europeia. Com o aumento das apreensões e da pressão internacional, os criminosos estabeleceram uma nova base logística em Belém, capital paraense, visando driblar a vigilância portuária e manter o fluxo de entorpecentes para o exterior.

A descoberta do braço operacional no Pará ocorreu após a apreensão de 560 kg de cocaína em uma lancha ancorada na marina Marine Park, na Ilha do Mosqueiro, em maio de 2024. A embarcação, do tipo KM1, tinha vindo de São Paulo, e os pagamentos para sua manutenção levaram a PF a identificar o envolvimento de membros do grupo, como Klaus de Castro Rios Motta e Silva e Ivan de Freitas Santos. Prints de conversas fornecidos pela responsável pela marina ajudaram a comprovar a ligação com a organização.

De acordo com os investigadores, Klaus coordenava o núcleo regional do Norte, que operava não apenas no Pará, mas também no Maranhão. O grupo era diretamente ligado ao empresário Marco Aurélio de Souza, conhecido como “Lelinho”, apontado como um dos principais exportadores de cocaína do Brasil.

Além de Klaus e Ivan, a PF identificou outros integrantes do grupo, como Anderson Monteiro Gomes, Julio Cesar Fernandes e Sergio Ruiz da Silva — todos alvos de mandados na operação.

Ligação com o PCC

As investigações também indicam que a organização investigada possui forte ligação com o PCC. Conversas interceptadas mostram que Gabriel Gil Bernardo, conhecido como “Jogador”, seria o elo com a facção, ocupando posição de liderança e sendo responsável por decisões estratégicas do tráfico em larga escala.

Jogador contava com o apoio de Adenilso Antônio dos Santos, contador tanto de sua facção quanto da empresa Máximo Serviços Marítimos, de Lelinho. Ambos atuaram na compra de embarcações e na definição de rotas para a exportação de cocaína.

A PF também apurou que o nome de Klaus foi submetido à “disciplina” do PCC, setor responsável por aplicar punições internas, após desentendimentos financeiros com o grupo — o que reforça a existência de uma relação criminosa consolidada.

Rota internacional e apreensões

A base no Pará passou a ganhar protagonismo após apreensões anteriores em alto-mar. Em julho de 2022, 1,9 tonelada de cocaína foi interceptada em uma operação conjunta entre Brasil e Espanha, em uma lancha do tipo GoFast. Já em fevereiro de 2023, a guarda costeira dos EUA apreendeu três toneladas da droga no veleiro Lobo IV, que teria saído de Ilhabela (SP) com destino à Guiné-Bissau. O responsável, Flávio Fontes Pereira, foi preso e teria colaborado com informações sobre o funcionamento do esquema.

Entre março e abril de 2023, satélites detectaram uma embarcação suspeita da empresa JackSupply fazendo travessia internacional, possivelmente levando cocaína à Europa.

A operação

A Operação Narco Vela mobilizou mais de 300 policiais federais e 50 policiais militares de São Paulo para cumprir quatro mandados de prisão preventiva, 31 de prisão temporária e 62 mandados de busca e apreensão nos estados do Pará, São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão e Santa Catarina. A 5ª Vara Federal de Santos (SP) também determinou o bloqueio de R$ 1,32 bilhão em bens dos investigados.

Os envolvidos poderão responder por tráfico internacional de drogas, organização criminosa e associação para o tráfico. A PF segue investigando outros núcleos e ramificações da quadrilha.

Com informações de Metropoles

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