Em um cenário de intensa mobilização social e pressão midiática, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), tem recuado de uma série de medidas consideradas impopulares, submetendo-se às demandas de grupos organizados que ocuparam ruas, prédios públicos e redes sociais para expressar seu descontentamento. Os recentes episódios têm gerado debates sobre a postura do governador, que está no meio de seu segundo mandato e é visto como um nome em ascensão para o cenário político nacional.
Um dos primeiros sinais de recuo ocorreu quando o governo desistiu de enviar à Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) um projeto de lei que propunha a reformulação de órgãos estaduais como a Fundação de Telecomunicações do Pará (Funtelpa) e a Fundação Cultural do Pará (FCP). A proposta gerou críticas imediatas de servidores públicos, artistas e intelectuais, que ocuparam espaços midiáticos e organizaram manifestações contra a medida. A pressão foi tamanha que Helder Barbalho optou por abandonar a ideia, evitando um confronto direto com esses setores.
Outro momento emblemático foi a reviravolta nas mudanças propostas para a educação indígena e o Sistema Modular de Ensino (SOME). Após dias de ocupação do prédio da Secretaria de Estado de Educação (SEDUC) e uma invasão à Secretaria de Estado de Fazenda (SEFA), que resultou em vandalismo, o governo chegou a um acordo com lideranças indígenas, quilombolas e sindicais. O episódio evidenciou a força da mobilização social e a disposição do governo em negociar em meio a crises.
Na área rural, o governo também cedeu à pressão de produtores rurais, especialmente do sul e sudeste do Pará, retirando de pauta um projeto de lei que instituía a chamada “Taxa do Agro”. A proposta, que previa a cobrança de uma taxa sobre atividades agrícolas, foi criticada por poder impactar o custo de vida e o preço dos alimentos, já em alta no país. Agricultores argumentaram que o valor da taxa seria repassado aos consumidores, o que poderia agravar a situação econômica no estado. Diante do clamor, o governo optou por recuar.
O mais recente exemplo ocorreu na noite desta quinta-feira, 20, quando o governo interveio para evitar o reajuste nas passagens da linha fluvial que opera entre Belém e o arquipélago do Marajó. A empresa Henvil Transportes, responsável pelo transporte de passageiros e produtos na região, havia solicitado o aumento, mas a medida foi barrada após pressão do governo, que buscou evitar um novo desgaste com a população.
Análise política: Derrota ou estratégia?
Para alguns opositores, os recuos sucessivos de Helder Barbalho representam uma série de derrotas políticas para o governador, que está na metade de seu segundo mandato e já mira posições nacionais para 2026. Especula-se que ele possa disputar uma vaga no Senado Federal ou até mesmo concorrer como vice-presidente em uma chapa majoritária. Nesse contexto, os críticos argumentam que a imagem de um líder que cede a pressões pode fragilizar sua trajetória política.
Por outro lado, analistas ponderam que a disposição de rever posicionamentos e atender demandas sociais pode ser interpretada como uma característica de um líder moderno e sensível às necessidades da população. “Mudar de postura diante de crises e reivindicações populares não é sinal de fraqueza, mas de maturidade política. Um estadista deve saber ouvir e adaptar-se quando necessário”, avalia um observador político local.
O futuro de Helder Barbalho
Enquanto o governador busca equilibrar-se entre pressões sociais e ambições políticas, seu governo segue sob os holofotes. Se, por um lado, os recuos podem ser vistos como concessões, por outro, eles podem fortalecer sua imagem como um líder que prioriza o diálogo e a negociação. Resta saber como esses episódios serão assimilados pela população e pelo eleitorado nos próximos anos, especialmente em um momento em que o governador projeta voos mais altos na política nacional.
Por ora, Helder Barbalho parece optar por uma estratégia que combina pragmatismo e flexibilidade, buscando evitar conflitos que possam gerar desgastes irreparáveis. Se essa postura será suficiente para consolidar seu nome no cenário nacional, só o tempo dirá.
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