Sintepp acusa Governo do Pará de manipular dados do IDEB

O modelo educacional de progressão continuada, também chamado de aprovação automática, adotada pela Seduc em 2023, permite que os alunos passem de ano mesmo sem aprovação em todas as disciplinas.

Nas últimas semanas, os trabalhadores do Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público (SINTEPP), realizaram atos em frente à Secretaria de Educação do Estado do Pará (SEDUC) buscando a revogação de uma portaria que extingue as aulas suplementares na rede estadual de ensino, que pode reduzir uma queda de até R$ 4 mil no salário dos profissionais. Na ocasião, a categoria também acusou o governo estadual de manipular o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), onde o Pará subiu da 26ª para a 6ª posição, por meio do uso do sistema de aprovação automática.

O que é o sistema de aprovação automática?

Também conhecido como sistema de progressão continuada, este modelo educacional permite que os alunos passem de ano, mesmo que não estejam aprovados em todas as disciplinas. A aprovação automática defende o fim das notas como único método de avaliação e prioriza o tempo de permanência do aluno na escola.

Neste modelo, o aluno avança para a série seguinte independentemente do seu desempenho acadêmico. Logo, mesmo que ele não tenha atingido as notas mínimas exigidas em todas as disciplinas, ele avança para o próximo ano letivo. A principal ideia deste modelo é permitir que todos os estudantes tenham a oportunidade de progredir no ensino, evitando índices de repetição de ano e a evasão escolar.

No entanto, diversos profissionais de comunicação em todo o mundo apontam possíveis falhas neste sistema, argumentando que ele pode comprometer a qualidade do ensino já que os alunos não precisam comprovar aprendizado pleno para avançar de série. Além disso, sindicatos de educação em diversas cidades brasileiras citam ainda que a falta de uma avaliação rigorosa pode resultar em lacunas de aprendizagem e dificuldades futuras para os estudantes.

Desempenho inédito

Em 2023, o governador Helder Barbalho (MDB), anunciou mudanças no modelo de aprovação dos alunos após registrar queda nas matrículas do ensino médio. Desta forma, para evitar a evasão, o governo paraense adotou o sistema de aprovação automática, onde os estudantes não podem ser reprovados a cada série, mas ao final de ciclos de dois a três anos.

Interferência no Ideb

Mudanças no sistema de aprovação interferem diretamente nos índices do Ideb, já que o cálculo combina taxa de aprovação com a nota dos alunos no Saeb, uma prova de matemática e português aplicada pelo MEC (Ministério da Educação).

No Ideb de 2021, a aprovação no ensino médio foi 71%. Já em 2023, após adotar a aprovação automática, a aprovação avançou para 99%.

Na prática, a mudança adotada pela Seduc trocou o regime de séries pelo ciclos. Logo, a reprovação só pode acontecer em cinco dos 12 anos da educação básica. No caso do ensino médio, os alunos só podem ser reprovados no 3º ano.

Em um ano, a mudança permitiu que o Pará registrasse 100% de aprovação nos alunos do 1º e 2º anos do ensino médio, taxa inédita a nível nacional desde a criação do Ideb, em 2005. Já no 3º ano do Ensino Médio, a aprovação foi de 96%.

O Portal Estado do Pará Online entrou em contato com a Seduc para exposição de considerações sobre o caso.