Em um belo artigo publicado no UOL, Walter Casagrande Jr., comentarista esportivo, jornalista e ex-jogador de futebol, abre o texto com uma reverência que poucos têm coragem de fazer com tanta franqueza: ele rasga elogios à cidade de Belém, ao Pará, à região Norte e ao monumental Mangueirão, palco que ele descreve como o cenário mais vibrante da rodada final da Série B. Casão crava sem hesitar: era o jogo que ele queria assistir. E ele não errou.

Logo de cara, o ex-camisa 9 deixa claro que sua expectativa era alta. Mesmo assim, a festa da torcida do Remo superou tudo o que ele imaginava. Casagrande fala em “a coisa mais linda do ano”, descrevendo o Mangueirão lotado, pulsando, transbordando emoção na tarde em que o Leão Azul tentou – e conseguiu – voltar à Série A após 31 anos.
A narrativa do craque da seleção brasileira pinta a atmosfera com precisão: crianças emocionadas, famílias inteiras de azul-marinho, uma massa que empurrava o time sem trégua. A torcida, que uma semana antes havia sido alvo de insultos racistas e xenófobos de uma torcedora do Avaí, transformou o Mangueirão em um grito de resistência e afirmação da região Norte. E aqui lembro que a agressora, que virou notícia nacional por seu ataque criminoso, até agora só sofreu uma consequência: a demissão da empresa onde trabalhava. Nada além disso.
Em campo, Casão descreve um jogo “intenso e totalmente na bola”. Lembra que o Goiás abriu o placar cedo, mas destaca a maturidade do Remo, que não se abalou, tomou o controle da partida e foi criando alternativas até empatar, com um golaço de Pedro Rocha nos acréscimos do primeiro tempo. O Mangueirão, escreve ele, “explodiu”.

Na volta do intervalo, o comentarista se rende de vez ao espetáculo. Fala em pressão, agressividade, consciência tática. Casagrande descreve a virada como consequência natural da postura azulina – e celebra o 2 a 1 marcado por João Pedro, em jogada iniciada novamente por Pedro Rocha. A essa altura, a torcida já vivia um transe coletivo.
Mas o golpe final veio aos 84 minutos. O terceiro gol, novamente de João Pedro, fez o Remo não só subir: fez o estádio inteiro tremer. Nas palavras de Casagrande, era a consagração de um acesso histórico – e de uma resposta direta a quem tenta diminuir o Norte com preconceito e ignorância.
Casagrande conclui com um carinho raro no jornalismo esportivo: parabeniza o Remo, envia um beijo aos torcedores e reafirma que também torceu para o acesso.
No fim das contas, não foi apenas a vitória de um time. Foi o triunfo de uma cidade, de um estado, de uma região – e de uma torcida que, na festa mais bonita do ano, deu sua resposta ao racismo e à xenofobia: dentro e fora do campo.
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