“Não sou acusado de assassinato e vou processar quem está espalhando Fake News”, diz Prefeito de Tucuruí, Alexandre Siqueira

O prefeito Jones William, de Tucuruí, no Pará, foi executado a tiros no dia 25 de julho de 2017. Agora, em setembro de 2023, passados seis anos, o Ministério Público está pedindo a impronúncia de acusados e aprofundamento das investigações.

Alexandre Siqueira

A redação do portal estadodoparaonline.com recebeu na noite desta quinta-feira (28), a ação penal apresentada pelo Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), representando o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), que ofereceu à justiça denúncia contra nove pessoas, incluindo o prefeito de Tucuruí, Alexandre Siqueira (MDB) e mais cinco policiais civis.

A denúncia do GAECO iniciou a partir de uma investigações que apurava desvios de recursos públicos do IPASET – Instituto de Previdência dos Servidores de Tucuruí, onde foi requerida e atendida uma medida cautelar de busca e apreensão em desfavor de FIRMO LEITE GIROUX, ex-diretor do IPASET, e MOISES GOMES SOARES FILHO (autos n. 0003772 88.2018.8.14.0061). Os aparelhos celulares aprendidos com os investigados foram encaminhados ao GSI – Gabinete de Segurança Institucional do Ministério Público do Estado do Pará para extração de dados. Em análise preliminar de seus conteúdos, foram identificados
indícios de delitos praticados por agentes públicos e particulares relacionados à apuração do presente crime de homicídio que teve como vítima o então prefeito de Tucuruí, Jones William da Silva Galvão.

A partir daí, o GAECO entrou no jogo e passou a levantar questões gravíssimas, fruto de investigação sobre o assassinato do até então prefeito da cidade, Jones William (PMDB), em 2017. Alexandre é marido da deputada federal Andréia Siqueira (MDB). No dia 25 de julho daquele ano, Jones William foi morto no município enquanto inspecionava obras públicas. Alexandre apoiou Jones na eleição.

O prefeito e outros três homens foram denunciados por corrupção ativa de cinco agentes públicos continuada. Já os cinco policiais civis foram denunciados por corrupção passiva continuada em concurso material com violação de sigilo funcional continuada. A denúncia é assinada por seis promotores que fazem parte do Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (GAECO) e pela 2ª Promotoria de Justiça de Tucuruí.

Em nota, o MPPA informou que “o juiz que atua nesse caso decretou sigilo, por isso o MPPA não irá se manifestar, no momento”.

O Portal Estado do Pará entrou em contato com o prefeito Alexandre Siqueira, que disse estar tranquilo em relação à ação do MP e que sua assessoria jurídica tomará as medidas cabíveis para fazer sua defesa e processar pessoas e veículos de imprensa, que segundo ele, se aproveitando da situação, estão manipulando informações, mentindo, criando Fake News e o difamando, com acusações de que ele teria sido o responsável pela morte do ex-prefeito Jones William, seu amigo e irmão.

A prisão de Josy e Arthur Brito

Em 25 de julho de 2017, o então prefeito Jones William da Silva Galvão, com 42 anos de idade, inspecionava uma obra de reparo de estradas na cidade quando foi surpreendido por dois homens em uma motocicleta. Esses indivíduos dispararam cinco tiros, atingindo fatalmente seu peito e cabeça. Apesar de ter sido socorrido e levado ao Hospital Regional, Jones não conseguiu sobreviver aos ferimentos. Além de sua carreira política, Jones era enfermeiro e deixou esposa e filhos. Ele havia sido eleito no ano anterior pelo PT.

Com a trágica morte do prefeito, o vice-prefeito Artur Brito assumiu o cargo. Sua mãe, Josy Brito, era apontada como uma eminência parda, no governo, agindo de forma a comandar contratações e ações de grande volume. No entanto, mãe e filho foram posteriormente acusados de serem os mandantes desse assassinato após uma investigação policial. Em 2017, tanto mãe quanto filho foram presos, juntamente com o irmão do então prefeito, Lucas Brito, o comandante Wilson e Marlon (amigos de Artur). Também foram detidos Birinha e Patrick, acusados da execução do crime, sendo que Patrick era segurança de Josy. Tiago Canaã, que era motorista de Arthur, e dois homens conhecidos como Clóvis e Cleiton, que alegadamente eram agiotas e sócios do vice-prefeito que assumiu a prefeitura, foram igualmente detidos. Apesar da prisão ter sido decretada, Artur retornou temporariamente ao cargo de prefeito e, conforme comentários em Tucuruí, os acusados permaneceram em liberdade. Acredita-se que a viúva e os filhos de Jones tenham deixado a cidade devido ao medo.

Josy Brito era até aqui apontada como uma das principais acusadas de ser a mandante do assassinato do ex-prefeito Jones William. Ela faleceu no dia 13 deste mês, após lutar contra um cancer.

O assassinato de Jones William levou a família Brito ao poder de Tucuruí de 2017 até 2020, quando Arthur Brito foi derrotado pelo opositor, o atual prefeito Alexandre Siqueira.

Defesa de Alexandre

Ao visitar uma obra no município, o prefeito gravou um vídeo comentando sobre o ocorrido e dizendo para sua oposição: “Quanto mais ficarem atacando, quanto mais ficarem inventando mentiras, mais eu vou trabalhar, dia a dia, sol a sol, pra melhorar a cidade de Tucuruí, porque essa é a nossa preocupação. Meu trabalho pela cidade de Tucuruí”.

“Até as pedras das ruas sabem o que aconteceu com a morte do nosso saudoso prefeito Jones William, que era mais que um amigo para mim, era um irmão. Eu só não quero deixar e, não vou permitir, que fiquem utilizando isso para fazer politicagem, querendo me colocar como suspeito, autor, denunciado. Todo mundo sabe o que aconteceu. E nós vamos continuar trabalhando.”

Alexandre Siqueira, prefeito de Tucuruí.

O irmão de Jones William, o vereador de Tucuruí Weber Galvão, irmão do Jones William (ex-prefeito de Tucuruí), grava vídeo o vídeo abaixo, inocentando Alexandre Siqueira.

Afastamento do delegado e policiais

O Ministério Público requereu o afastamento das funções públicas, notadamente atividades
policiais e periciais, bem como de qualquer unidade e sistemas de bancos de dados
policiais de José Eduardo Rollo da Silva, Donivaldo de Jesus Palha, Jonatas Rabelo
Galvão
, Afonso Alves Rodrigues, Amarildo Leite dos Santos e Andrey Fernandes
Mateus
. Além disso, requer encaminhamento das peças de informação, dos elementos probatórios que instruem a denúncia e das peças processuais para a Corregedoria da Polícia Civil para as providências administrativas para apuração de infração administrativa.

A alegação do MP é que “o delegado de polícia e os quatro policiais civis, durante o
transcorrer do inquérito policial que apurava o homicídio contra Jones William,
revelaram fatos sobre a investigação de que tinham ciência, em razão dos cargos
ocupados na polícia civil, e deviam permanecer em segredo; revelações que resultaram
em dano à Administração Pública”. E por isso, “a manutenção dos denunciados nos cargos públicos da Polícia Civil afronta diversos comandos da Constituição. A ordem constitucional repudia comportamentos contrários ao interesse público, à moralidade administrativa e ao
regime democrático.