Mestre Damasceno: relembre os marcos da trajetória do ícone da cultura marajoara - Estado do Pará Online

Mestre Damasceno: relembre os marcos da trajetória do ícone da cultura marajoara

Cantor, compositor e criador do Búfalo-Bumbá foi celebrado no Pará e no Brasil por mais de cinco décadas de atuação.

Guardião da cultura popular amazônica, Mestre Damasceno construiu ao longo de 71 anos uma trajetória marcada pela reinvenção, pelo engajamento comunitário e pelo reconhecimento nacional. Natural de Salvaterra, no arquipélago do Marajó, ele nasceu em 1954 na comunidade quilombola do Salvá e, ainda na juventude, perdeu a visão em um acidente de trabalho. A deficiência não interrompeu sua ligação com a arte: a partir dos 19 anos passou a se dedicar ao carimbó, ao boi-bumbá e à oralidade de mitos e lendas da região.

Criador do Búfalo-Bumbá, manifestação que fundiu elementos do teatro popular, da ancestralidade quilombola e da natureza amazônica, Damasceno deu origem a um dos símbolos culturais do Marajó. Também fundou o Conjunto de Carimbó Nativos Marajoara, promoveu festivais de boi-bumbá e manteve viva a tradição por meio da formação de jovens aprendizes. Em paralelo, compôs mais de 400 músicas, lançou seis álbuns e teve sua obra registrada em documentários.

O reconhecimento oficial veio em diferentes momentos. Em 2010, recebeu o Prêmio Maria Isabel do Ministério da Cultura. Já em 2023, ano em que completou 50 anos de carreira, sua obra foi declarada patrimônio cultural imaterial do Pará pela Lei nº 10.141. No mesmo período, foi homenageado com a Comenda Eneida de Moraes, a Medalha Mestre Verequete e o título de Cidadão de Belém, além de ser lembrado em desfiles de Carnaval da Paraíso do Tuiuti, no Rio de Janeiro.

Nos últimos anos, a projeção ultrapassou fronteiras regionais. Em 2025, Mestre Damasceno foi um dos compositores do samba-enredo da Acadêmicos do Grande Rio, escola que exaltou a cultura amazônica e conquistou o vice-campeonato no Carnaval carioca. Também foi agraciado com a Ordem do Mérito Cultural, entregue em cerimônia com a presença do presidente Lula e da ministra da Cultura, Margareth Menezes, no Rio de Janeiro. Poucos meses depois, tornou-se um dos homenageados centrais da 28ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, em Belém.

A cada etapa, o artista reafirmou a importância da oralidade, do carimbó e das manifestações tradicionais como pilares da identidade amazônica. Sua obra permanece como referência de resistência e memória coletiva, consolidando-o como um dos maiores expoentes da cultura popular do Pará.

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