Crise na saúde de Ananindeua: Santa Maria recebe R$ 103 milhões, enquanto UPAs e outros hospitais enfrentam colapso

Hospital Santa Maria x UPA Icuí
Enquanto o hospital particular Santa Maria recebe milhões de reais, pacientes que procuram atendimento nas UPAs sofrem com o descaso e a falta de insumos e funcionários públicos.

Informações oficiais apontam que a Prefeitura de Ananindeua repassou R$ 103,3 milhões ao Hospital Santa Maria entre janeiro de 2021 e maio de 2025, enquanto outros hospitais e clínicas da cidade sofrem com atrasos nos pagamentos, fechamento de unidades e risco de falência. Os dados, atualizados pelo IPCA, constam no Portal da Transparência e revelam um cenário de desigualdade no repasse de recursos públicos.

  • R$ 103,3 milhões foram repassados para o Santa Maria (2021−2025), enquanto há dívidas de R$ 13 milhões a outros hospitais.
  • 2 hospitais fechados e 1 clínica de hemodiálise à beira do colapso.
  • Atendimentos a pacientes de Ananindeua em Belém aumentaram 88%.
  • MPPA investiga favorecimento e pede intervenção na saúde municipal.

Colapso na rede hospitalar e fuga para Belém

Com a precarização da saúde local, moradores de Ananindeua buscam atendimento em hospitais de Belém, sobrecarregando a rede estadual. Dados do Ministério da Saúde mostram que os atendimentos a pacientes da cidade aumentaram 88% em um ano: saltaram de 196.225 (1º trimestre de 2023) para 368.518 (mesmo período em 2024).

Enquanto o Santa Maria recebe repasses volumosos, outros hospitais e clínicas da cidade enfrentam dificuldades extremas, com atrasos nos pagamentos, fechamento de unidades e risco de falência. Exemplos disso não faltam: dois hospitais fecharam (Anita Gerosa, única maternidade 24h, e Camilo Salgado) e outros, como o Hospital de Clínicas de Ananindeua (HCA) e o Centro de Hemodiálise Ari Gonçalves (CEHMO), enfrentam dívidas milionárias. A Prefeitura deve cerca de R$ 13 milhões a essas unidades, mesmo recebendo R$ 21 milhões por mês do SUS.

Leia também:

MP aponta favorecimento ao Santa Maria e esquema de concorrência desleal

O Ministério Público do Pará (MPPA) investiga indícios de que a crise seria uma estratégia para eliminar concorrentes e beneficiar o hospital Santa Maria. Entre 2021 e 2024, a Prefeitura recebeu quase R$ 1 bilhão do SUS para serviços de saúde, mas concentrou repasses no Santa Maria, que já foi do prefeito Daniel Santos (PSB).

Repasses milionários ao Hospital Santa Maria no período de 2021 a 2025:

• 2021: R$ 17.417.507,45

• 2022: R$ 25.871.198,06

• 2023: R$ 29.519.786,14

• 2024: R$ 22.084.260,03

• 2025 (até 08/05): R$ 8.441.403,23

• Total: R$ 103.334.154,91

Além disso, uma clínica de hemodiálise supostamente ligada a um ex-sócio do prefeito, a Nefro Saúde, recebeu R$ 4,4 milhões em 2024, enquanto o CEHMO, que atendia pacientes pelo SUS, teve repasses reduzidos de R$ 7,2 milhões/ano (2021-2023) para apenas R$ 1,3 milhão, em 2024.

UPAs em Ananindeua enfrentam superlotação, falta de recursos e fechamento de unidades

A crise na saúde pública de Ananindeua atinge também as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), com relatos de superlotação, falta de médicos, insumos e atrasos nos repasses financeiros. Enquanto o poder público alega falta de recursos, pacientes denunciam longas esperas, atendimento precário e até fechamento de unidades.

Falta de estrutura e sobrecarga nas UPAs remanescentes

Com o fechamento de hospitais e a redução de leitos na rede municipal, além de Belém, as UPAs de Ananindeua viraram principal porta de entrada para emergências, mas operam em condições insuficientes para a demanda. Relatos de usuários apontam:

  • Falta de médicos em turnos noturnos e finais de semana.
  • Escassez de medicamentos e materiais básicos, como gaze e soro.
  • Espera de até 12 horas para atendimento em dias de pico.

Pedido de intervenção estadual

Em fevereiro de 2024, o então Procurador-Geral de Justiça, César Mattar, pediu intervenção do Estado na saúde de Ananindeua, acusando a gestão municipal de “temerária” e de praticar “dumping” (eliminação de concorrência por meio de atrasos de pagamentos). O MPPA também investiga um esquema de desvio de R$ 261 milhões do Iasep, que envolve o Santa Maria.

Enquanto isso, pacientes enfrentam filas, falta de leitos e transferências emergenciais para Belém, em um cenário que ameaça toda a Região Metropolitana.

Leia também: