O Espetáculo de Dança Contemporânea “Corpos D’água” idealizado pelo “Coletive Umdenós” levará o projeto de circulação ao arquipélago do Marajó entre 24 de junho e 2 de julho; começando por Salvaterra, passará por Joanes, Soure, finalizando sua turnê em Jenipapo, com apresentações sempre às 18h e oficinas de dança para a comunidade local. O projeto mostra a relação íntima da artista índigena Rosangela Colares, Leo Barbosa e NaíseS com a água e os diversos corpos líquidos que compõem as identidades Amazônicas.
Corpos D’água surgiu como ideia ainda na pandemia, conta Rosangela Colares, 54 anos, Doutora e artista docente em Dança, a partir da sua relação com a água desde a infância. Cresceu ouvindo a sabedoria ancestral de sua avó e, depois que se tornou intérprete, decidiu fazer uma auto investigação do que gostaria que sua dança comunicasse.
“Para falar da minha relação com a água é necessário falar da minha identidade indigena. A minha experiência desde a infância com o rio Arapiuns, assim como o rio Tapajós e o rio Guamá. Eu sou uma mulher indigena neurodivergente, neta de curandeira do povo Arapiuns”, iniciou.
“Minha avó costumava me ensinar a tomar a ‘bença’ dos donos e donas das coisas e lugares, assim, não se podia entrar na água sem pedir licença. Essa relação de respeito é fundante na minha cultura, a água não é um produto a ser comercializável, comprado ou vendido, ela é um ser poderoso que deve ser admirada e temida. A água constitui uma grande parte de minha identidade amazônica, apesar de haver muitas Amazônias, eu, com certeza sou uma filha da Amazônia das grandes águas”, completou.
O espetáculo
O espetáculo terá 50 minutos e três grandes cenas que se conectam pelas narrativas de Rosangela, Leo e NaiseS. A realização do Coletive Umdenós, acontece por meio do Edital de Dança da Lei Paulo Gustavo 2023, pela Secretaria de Cultura do Estado do Pará e Ministério da Cultura do Governo Federal e contará com abertura musical, o show Milagre comum: Mateus Moura e Iris da Selva. A produção executiva é de Brigitte Liberté, artes gráficas de Eduarda Amorim, figurinistas: Jean Negrão e Leonardo Botelho. Operação de som, Mateus Moura. Iluminação, Renan Rosário. Fotografia de Ana Ribeiro.
A professora de artes, NaiseS, 31 anos, frisa que a primeira vez que se apresentou estava com oito meses de gestação. Com o nascimento do filho, ele também se tornou elenco.
“Minha relação com a água é de vida, após ter o corpo imerso em líquido durante a gravidez. Meu trabalho se relaciona com a maternidade, a transformação do corpo, o peso social de ser responsável por uma pessoa, o cuidado, o amor, o renascer, a maturidade, o crescimento, enfim a vida, o que se vê e o que não se vê”, disse.
Já para Leo Barbosa, 31 anos, a relação com a água vem dos seres encantados da região e aposta que o público irá se encantar ao assistir o espetáculo. “Minha relação com água no espetáculo vem dos seres encantados da região amazônica: Boi Tatá, cobra Norato, Maria Caninana, Boto, Vitória-régia, Yara… Pensar nestes corpos que ficam entre, entre a água e a terra, entre a profundeza e a superfície, é um relato de transformação árdua, não em um piscar de olhos, mas da dor do abandono de uma forma/pele para assumir outra”, observou.
Bate-Papo
Rosangela também ponderou sobre a urgência do debate climático, sobre as escolha das localidades, pensadas para garantir mais acesso ao povo marajoara. “Minha família paterna é oriunda do Marajó. Existe um desejo de conexão com este território e como diz o carimbó do Grupo Sancari, ‘quem manda no Marajó é a maré’. Estar nestes municípios que ainda hoje possuem uma íntima relação com a água é reafirmar nossos laços identitários e principalmente abrir espaço para saber mais sobre essas relações. Queremos compartilhar nossos modos de existir, de resistir e de crer, por meio da dança”, acrescentou.
A artista reforça o convite para quem puder assistir ao espetáculo e diz o que podem esperar: “o público pode esperar um trabalho honesto, simples, mas cheio de respeito e amor pelo que somos, por estas insignificâncias, como diria Manoel de Barros. Um diálogo profundo e fértil com quem compartilha conosco deste grande território chamado Amazônia e queremos com nossa dança defender nossos modos de existir”, finalizou.
Após a apresentação haverá um debate sobre o espetáculo e como cada pessoa se relaciona com a água. “Hoje estamos vivendo um momento terrível, as catástrofes climáticas assolam nosso país. Vemos também discursos que vilanizam, culpabilizam a chuva, os rios, as águas, quando na verdade a humanidade e suas ações vêm pressionando a natureza, tratando-a como mercadoria, sem respeito nenhum pelos povos que defendem e guardam tais territórios. Como são tratados os povos indígenas de Norte ao sul do país? Este espetáculo deseja nos lembrar que a água é uma entidade, uma pessoa, rios possuem direitos assim como nós pessoas humanas”, concluiu.
SERVIÇO – Programação Circulação Corpos D’água
24/05 (sexta)
- Apresentação do espetáculo em Salvaterra (19h). Quiosque Muiraquitã (Avenida Beira Mar – orla da Praia Grande)
25/05 (sábado)
- Oficina de dança em Salvaterra (9h). Quiosque Muiraquitã (Avenida Beira Mar – orla da Praia Grande)
- Apresentação do espetáculo em Joanes (18h). Sítio Arqueológico (Praça da Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário. Onde está as ruínas e a escola de Joanes)
26/05 (domingo)
- Oficina de dança em Soure (10h). Associação Moradores do Pacoval (Décima terceira rua, entre travessas 23 e 24 bairro Pacoval)
- Apresentação do espetáculo em Soure (18h), no mesmo local.
01/06 (sábado)
- Apresentação do espetáculo em Jenipapo (18h). Cineclube Giovanni Gallo (sede da Colônia dos pescadores situada na rua vila nova S/n, – vila de Jenipapo)
02/06 (domingo)
- Oficina de dança em Jenipapo (9h). Cineclube Giovanni Gallo (sede da Colônia dos pescadores situada na rua vila nova S/n, – vila de Jenipapo)
- Apresentação do espetáculo em Jenipapo (18h), no mesmo local.
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