Com bolsonaristas e lulistas no apoio, a família barbalho amplia seu poder no Pará

Para se manter no poder, a família barbalho se abraça com "Deus e o Diabo"; com Lula e bolsonaristas; grileiros devastadores e militantes ambientalistas. Resta saber até quando as partes serão enganadas ou pelo menos fingindo isso.

Família Barbalho posa para foto com o prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), quem ajudou a eleger prefeito em 2020 e agora o abandonou.
Família Barbalho posa para foto com o prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), quem ajudou a eleger prefeito em 2020 e agora o abandonou. Foto: Reprodução/Redes sociais.

As imagens publicadas pelas redes sociais do governador Helder Barbalho (MDB) neste final de semana, em um fazenda provavelmente localiza no Pará, não foram feitas e publicadas a toa. Dias antes, um grande fazendeiro do Pará foi autuado por servidores da Secretaria Estadual de Meio Ambiente por não possuir licenças para atuar no plantio de arroz no município de Cachoeira do Arari, onde até o rio foi desviado com o objetivo de irrigar a terra para a monocultura.

Helder é chamado de “comunista” por alguns adversários bolsonaristas, mas nem todos o consideram assim, pois há entre os bolsonaristas, aqueles que o apoiam fielmente, dando-lhe votos e suporte em suas atividades políticas e empresariais.

Mesmo sendo aliado de Lula, líderes religiosos, pecuaristas, agricultores e demais empresários bolsonaristas seguem ao seu lado, em total e irrestrita fidelidade ao governador paraense e sua família.

É claro que entre seus apoiadores, boa parte não atendeu o pedido de Helder para votar em Lula, como líderes religiosos, deputados, prefeitos, pecuaristas e demais empresários bolsonaristas, mas nenhum deles sofreu qualquer retaliação por parte do governador reeleito. Muito pelo contrário: Helder tem afagado diversas lideranças bolsonaristas e até filiados algumas delas no partido onde tem controle absoluto: O MDB, onde pretende eleger 100 ou mais prefeitos nas eleições de outubro.

FAÇA O QUE EU FALO

Mesmo sendo eleito vereador de Ananindeua e depois deputado estadual pelo PSDB e depois se filiado ao MDB por onde foi eleito prefeito de Ananindeua pelo MDB, Dr Daniel Santos é chamado por alguns setores da esquerda paraense de bolsonarista por não ter feito campanha para Lula nas eleições de 2022, como pediu Helder Barbalho para todos os prefeitos e lideranças políticas que pôde, no segundo turno, pois no primeiro todos ficaram à vontade para votar no candidato a presidente que quisessem.

Dr. Daniel tem o apoio dos diretórios estaduais e municipais do PCdoB e do PV, assim como do diretório municipal do PT em Ananindeua. Os três partidos que apoiam Lula, possuem secretarias e cargos em seu governo, mas mesmo assim, alguns setores da esquerda, sobretudo ligados ao senador Beto Fato (PT), insistem em acusá-lo de bolsonarista, mesmo sem apresentarem qualquer prova de que Daniel jamais tenha feito campanha ou pedido voto para Bolsonaro, tal como Helder fez explicitamente para Lula.

Segundo uma fonte do portal, a explicação de Daniel é simples: “Nas eleições de 2022 ele estava preocupado em garantir uma boa administração para a cidade em que foi eleito e assim decidiu que os eleitores de Ananindeua e seus apoiadores escolhecem livremente em que presidente votar. Quem votou em Lula não sofreu qualquer retaliação por isso: pelo contrário, todos seguem sendo respeitados e ajudando a construir uma Ananindeua cada vez melhor”, concluiu um militante do PT que faz parte da prefeitura de Ananindeua.

Já Helder, que pediu voto para Lula e é acusado de não colaborar com o Agro, resolveu passar a mostrar fotos e vídeos como “homem do campo”, seja cavalgando, ou em colheitas de soja, como fez neste fim de semana.

Resta saber como os setores bolsonaristas e lulistas se comportarão diante desta posição dúbia e controversa, onde Helder uma hora é do agro e noutra seu governo age contra pecuaristas, madereiros, garimpeiros e produtores rurais, como o ex-vice-governador de Roraima, Paulo César Quartieiro, alvo de uma operação ambiental em Cachoeira do Arari, no arquipélago de Marajó, onde recebeu multas que totalizaram R$ 1 milhão por atividades irregulares na fazenda “Acostumado”.

Entenda o caso

Agentes do estado e município participaram da operação “Mal Acostumado” e constataram operação irregular de depósito de combustíveis, navegação pelo rio sem licença ambiental e atividade sem licença de agropecuária na produção de arroz, milho, criação de gado, entre outros cultivos agrícolas.

As investigações apontam que as atividades causaram impactos ambientais na região. Comunidades locais também estavam sendo afetadas pelo uso de agrotóxicos.

Segundo o delegado Sandro Castro, titular da Divisão Especializada em Meio Ambiente e Proteção Animal (Demapa), foi apreendido combustível e a fazenda foi proibida de comercializar produtos agrícolas.

Na delegacia, Quartieiro teria se recusado a assinar termo de interdição. Um agente ambiental também apontou que foi vítima de ofensas homofóbicas por parte do político fazendeiro. Quartiero confirmou que não assinou o termo de interdição. Ele afirmou que a paralisação iria levar a fazenda a falência. Ele ainda disse que a  “a operação tem caráter político” e que está sendo “perseguido por um esquema ambiental da Semas”.

ENFORCAR AMBIENTALISTAS

A jornalista Naira Hofmeister publicou matéria em julho de 2020, no site Intercept Brasil, dizendo o seguinte:

Novembro já se encaminhava para o final, e Paulo Cesar Justo Quartiero sabia que precisava andar rápido: quando as chuvas chegassem, em dezembro, qualquer obra se inviabilizaria durante meses. Por isso, ele vigiava de perto o time que erguia duas colunas de proporções incomuns para uma porteira de fazenda.

“Não é um pórtico”, me explicou o produtor de arroz, em 2018. “É um patíbulo para enforcar todos os ambientalistas que venham encher o saco. Agora, com Bolsonaro presidente, vai ser assim”, disparou, embalado pela então recente vitória do capitão reformado à presidência da República.

Bolsonarista convicto, o fazendeiro que teve sua fazenda embargada pelos agentes ambientais estaduais e municipais, recebeu logo em seguida apoio do secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Pesca do Pará, que é fazendeiro, pecuarista, médico e ex-deputado federal por 5 mandatos, Giovanni Queiroz (PDT), o qual compõe o governo de Helder Barbalho desde o primeiro mandato.

Logo depois do vídeo circular, Giovanni teria gravado um áudio dando apoio e prometendo intervir junto ao governador do Pará para ajudar o colega latifundiário, acusado de grilagem.

“Deputado Quartiero, quero aqui me solidarizar com você, enquanto produtor rural, indignado que estou, o prejuízo é para todo o setor produtivo no estado do Pará. Ações irresponsáveis, desequilibradas, não é, que só vêm a prejudicar o estado. Enquanto secretário de Estado de Agricultura, este fato está diretamente vinculado à nossa condição de poder produzir no estado. E você vai contar comigo, estaremos juntos, já quero na segunda-feira encontrar com você, e quero pedir uma audiência com o governador para discutir esse assunto especificamente, que logicamente se multiplica para tantos outros semelhantes. Fica aqui o meu abraço a você, a minha solidariedade, e vou estar à sua disposição para trabalharmos isso no sentido de sanar de vez essa perseguição que há muito vem sobre você. Um grande abraço.”

Resta agora saber ao lado de quem o governador do Pará ficará: dos bolsonaristas que defendem que a produção agrícula não deve parar ou dos lulistas que querem a paralisação de todas as atividades que não atendem as determinações do Estado brasileiro.

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