A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025, a COP 30, será realizada em Belém, Pará, entre 10 e 21 de novembro de 2025. A cidade foi oficialmente confirmada como sede durante a COP 28, em dezembro de 2023, marcando a primeira vez que uma conferência desse porte ocorre na Amazônia. A escolha atiça debates sobre o simbolismo da região e sua relação com os temas centrais da cúpula: conservação da floresta, participação indígena e justiça climática.
Infraestrutura e obras em ritmo acelerado
Para preparar Belém, o governo federal e estadual acionaram um pacote robusto de investimentos. Aproximadamente R$ 4,7 bilhões foram destinados a obras, incluindo um Parque da Cidade de 500 mil m², novas avenidas, drenagens, BRT, e expansão do aeroporto.
Um dos projetos mais controversos é a Avenida Liberdade, uma rodovia de 13 km que rasga uma área de floresta protegida. A obra foi planejada desde 2012, mas retomada sob o argumento da urgente necessidade de aliviar o trânsito na região metropolitana de Belém e contribuir para a fluidez e a mobilidade urbana durante e depois da COP.
Críticos afirmam que contraria o propósito de uma conferência sobre preservação ambiental. O governo do Pará, no entanto, alega que a estrada não é parte da infraestrutura oficial da COP e não utiliza recursos federais, vindo servir para suprir a carência de vias de acesso e saída da capital paraense, já que hoje só há uma: a rodovia BR 316.
Mobilização da sociedade civil
Organizações da sociedade civil — como Mandí, Mapinguari, GuetoHub, entre outras — formaram o Comitê COP30, com foco no fortalecimento da participação regional e socioambiental nas negociações. Propostas incluem zonas sociais de debate e mobilização, denominadas “Yellow Zones”, e participação ativa junto ao Itamaraty. Outras entidades locais realizam debates para pautar junto com universidades e organizações da sociedade civil organizada, assuntos de interesse local, como o que destaca a necessidade do financiamento climático chegar à ponta: ou seja, às periferias das cidades amazônicas, bem como as comunidades rurais, indígenas e quilombolas.
Crise de hospedagem: preços absurdos e lista de reclamações
À medida que o evento se aproxima, surgem graves queixas sobre os custos e a falta de acomodação. A cidade dispõe de cerca de 18.000 leitos oficiais, mas é esperada a presença de até 50 mil participantes, incluindo chefes de Estado e delegações técnicas.
Relatos indicam preços de diárias entre US$ 700 e US$ 2.000, superando em muito a ajuda de custo da ONU, de US$ 149/dia para países mais pobres.
Uma carta assinada por 25 países e blocos de negociação, entre eles o Grupo de Países Menos Desenvolvidos e da África, exigiu garantias de hospedagem acessível ou até a mudança parcial da sede.
O presidente da COP 30, André Corrêa do Lago, afirmou categoricamente que “não há plano B” e que o evento sempre será em Belém, enfatizando a importância simbólica da escolha. Afirmou ainda que o governo brasileiro trabalha em alternativas, como navios‑cruzeiros e reserva de acomodações limitadas a US$ 220 para países de menor renda..
Soluções emergenciais em debate
Para tentar contornar o déficit, o Brasil anunciou:
- Plataforma oficial de hospedagem com cerca de 2.700 opções entre casas, apartamentos e residências locais, com tarifas máximas entre US$ 200–600 por noite, em função do perfil do país solicitante.
- Dois navios‑cruzeiros atracados no Porto de Outeiro, com cerca de 6.000 leitos, priorizando países em desenvolvimento nas reservas a US$ 220 a diária.
- Conversão de salas de escola e espaços públicos em alojamentos provisórios e mobilização de hospedagem em residências comunitárias.
Mesmo com essas medidas, o prazo da UNFCCC para resposta formal ao impasse expira em 11 de agosto de 2025.
A COP 30 em Belém se firma como um choque de realidade: ao mesmo tempo em que direciona os holofotes ao debate ambiental e à Amazônia, traz à tona tensões centrais sobre infraestrutura, justiça climática e inclusão. A cidade-sede se prepara com obras e propostas inovadoras, mas enfrenta críticas por desigualdades socioambientais e riscos à própria floresta que pretende celebrar. As próximas semanas serão decisivas para saber se o evento se tornará um marco climático genuíno, ou se sucumbirá a contradições estruturais, deixando que oportunidades de negócios, desenvolvimento sustentável e os grandes debates sejam ocultados pelas críticas de opositores e entidades incomodadas com o protagonismo que Belém, o Pará e a Amazônia estão tendo na agenda política, ambiental e midiática mundial.
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