A curva da violência no Pará caiu de forma acentuada em outubro, mas a explicação para esse movimento não surge de um único lado. Dados oficiais apontam redução de 58% nos Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI) em comparação com outubro de 2018. É o menor índice para o mês em sete anos, segundo a Secretaria de Segurança do Pará (Segup).
Por trás dos números, porém, a percepção de quem vive nos bairros ajuda a ilustrar transformações recentes. Na Cabanagem, em Belém, moradores relatam que os indicadores começaram a mudar antes mesmo das estatísticas confirmarem. “Antes, o medo era instalado… Com a chegada da Usina da Paz, essa realidade não existe mais”, diz Isabelle Coelho, que testemunhou alterações no dia a dia da comunidade após a inauguração do complexo social em 2022.
Especialistas lembram que a queda da violência costuma envolver múltiplas variáveis. O cientista político Jonatas Souza, da UFPA, explica que os equipamentos sociais têm funcionado como pontos de oferta de serviços básicos e atividades estruturantes. “São mais de 70 serviços gratuitos disponíveis… A presença das Usinas da Paz no Estado é um fator importante para a redução da violência”, afirma. Para ele, esses espaços ajudam a diminuir tensões e ampliar oportunidades, especialmente em áreas com histórico de vulnerabilidade.
Paralelamente, o Estado informa ter ampliado compras e treinamentos voltados à segurança pública — de viaturas a equipamentos de proteção. A gestão sustenta que esse conjunto contribuiu para a queda registrada este ano. Mas pesquisadores ressaltam que o impacto dessas medidas varia conforme o território e que ainda falta mais transparência para avaliar a efetividade de cada ação.
Os relatórios da Secretaria-Adjunta de Inteligência e Análise Criminal (Siac) registraram 144 CVLI entre 1º e 31 de outubro de 2025, contra 340 no mesmo período de 2018. Os homicídios também recuaram: foram 128 em outubro deste ano, frente a 322 registrados no mês equivalente de 2018, uma redução de 60,25%.
No acumulado de janeiro a outubro, o Estado contabilizou 1.527 CVLI, queda de 55,58% na comparação com sete anos atrás — número que, em termos absolutos, representa 1.911 vidas preservadas segundo a metodologia da própria segurança pública.
A Secretaria de Segurança avalia que a diminuição está ligada ao cruzamento de investimentos e programas sociais. “Os fortes investimentos do Governo têm surtido efeito… Tem sido uma combinação perfeita de segurança e acesso a serviços”, afirma o titular da pasta, Ualame Machado. A fala segue a linha da gestão estadual, que apresenta o TerPaz e as Usinas da Paz como eixos de atuação.
Ainda assim, organizações independentes e parte da academia defendem que a queda precisa ser acompanhada ao longo dos próximos anos para evitar leituras apressadas. A expansão das UsiPaz, que hoje conta com 18 em funcionamento e 19 em obras, já acumula mais de 10,9 milhões de atendimentos, mas há debate sobre a capacidade desses centros de produzir impactos duradouros sem políticas de longo prazo e sem métricas claras de avaliação.
As estatísticas de outubro mostram um cenário em transformação, mas a discussão sobre os fatores reais da queda e sobre a sustentabilidade permanece aberta, tanto entre moradores quanto entre especialistas.











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