Dando início à programação da COP30 em Belém, a ONG Mandí realizou no último final de semana uma edição especial da Expedição pelos Rios Urbanos, no rio Tucunduba. A atividade reuniu representantes de movimentos sociais, pesquisadores e convidados internacionais para debater a relação entre as cidades e seus rios, com foco na preservação das bacias hidrográficas e na desigualdade ambiental nos centros urbanos.
Durante o percurso, os participantes acompanharam o trajeto do Tucunduba da nascente à foz, passando por cinco bairros de Belém. A diretora-presidente da Mandí, Camila Magalhães, explicou que a ação tem caráter educativo e político. “Os bairros por onde o Tucunduba passa são majoritariamente periféricos e negros, e sofrem há décadas com políticas públicas desiguais. Enquanto a Doca recebe jardins verticais e calçadas modernas, aqui a comunidade ainda luta por saneamento básico e arborização”, disse.
Importância da preservação popular e o papel da gestão pública
O grupo visitou a nascente do rio, preservada dentro de uma propriedade particular. A moradora Gisele destacou a importância da conservação do local. “A gente mantém a água oxigenada, evita que caia lixo no lago e conscientiza quem vem aqui. Cada semente que a gente planta repercute pelo resto da vida”, afirmou. Segundo ela, o reconhecimento da ONG e o interesse de visitantes internacionais reforçam o valor do cuidado comunitário com o meio ambiente.
A engenheira ambiental Aline Maciel, colaboradora da Mandí, explicou que o projeto busca também valorizar o uso social do rio. “O Tucunduba ainda é navegável. Queremos mostrar que um rio urbano pode servir à população como espaço de comércio, lazer e transporte, não só como destino de esgoto e lixo”, afirmou. Ela destacou que intervenções recentes, como a construção de escadarias, só ocorreram por pressão popular. “Se dependesse apenas dos gestores, elas não existiriam. Mesmo assim, foram feitas de forma inadequada, o que mostra a necessidade de fiscalização constante”, observou.
O geógrafo Cauã Lima, que acompanha as intervenções no entorno do Tucunduba, explicou que o problema das enchentes em Belém está diretamente ligado à ocupação das margens e à retirada da vegetação natural. Segundo ele, espécies como a aninga exercem papel fundamental na contenção da erosão e na regulação do curso d’água.
“Quando se cobre tudo de concreto e elimina a vegetação das várzeas, o que vem depois é inundação. O problema não é o rio, é a forma como a cidade ocupa o espaço”, afirmou o geógrafo Cauã.
Camila Magalhães acrescentou que a participação da população nas decisões sobre obras é essencial para evitar o chamado racismo ambiental. “Quando as comunidades não são ouvidas, as intervenções acabam destruindo o espaço e afastando as pessoas da natureza. Precisamos construir coletivamente as políticas públicas”, defendeu. Para ela, trazer o debate à COP30 é uma forma de mostrar ao mundo a realidade da Amazônia urbana. “Temos floresta e rios, mas também temos pessoas que precisam de qualidade de vida para continuar habitando esse território”, concluiu.
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