A COP30, marcada para novembro de 2025 em Belém, enfrenta obstáculos significativos devido ao cenário geopolítico internacional. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da conferência, apontou que a guerra comercial dos Estados Unidos, os conflitos militares recentes e o avanço da direita nas eleições europeias estão comprometendo as ambições climáticas da reunião.
“As negociações evoluem muito de acordo com as circunstâncias internacionais, e não preciso dizer que vivemos circunstâncias internacionais particularmente complexas”, afirmou Lago. A ausência dos Estados Unidos nas reuniões preparatórias em Bonn, na Alemanha, tem sido um dos principais entraves. A não participação está ligada à decisão do ex-presidente Donald Trump de retirar o país do Acordo de Paris, movimento iniciado em 2017.
A saída norte-americana é vista como um desafio, especialmente porque os EUA ocupam a 2ª posição em emissões de gases de efeito estufa em 2025 e lideram o ranking histórico de poluentes. “Afinal, eles são os maiores emissores históricos, estão em segundo lugar no ano de 2025 e, portanto, é muito importante ter um ator tão relevante na discussão”, destacou o embaixador.
Apesar do afastamento do governo federal dos EUA, 37 Estados norte-americanos já sinalizaram que pretendem seguir as metas do Acordo de Paris. “Eles vão ter uma participação importante. Esse grupo representa em torno de 70% do PIB americano”, informou.
A COP30 será a primeira conferência climática realizada no Brasil desde a Rio-92 e manterá o encontro de chefes de Estado em Belém, conforme determinação do presidente Lula. Um dos principais objetivos da cúpula será a apresentação do “roadmap” climático, documento que será elaborado por Brasil e Azerbaijão. O plano pretende mostrar como o mundo pode atingir um financiamento de US$ 1,3 trilhão (R$ 7,2 trilhões) — valor considerado fundamental por países em desenvolvimento para enfrentar a crise climática.
A atual meta de US$ 300 bilhões, aprovada na COP29, foi considerada insuficiente, levando a tentativas de reabertura das negociações durante a conferência preparatória em Bonn, o que paralisou os debates por dois dias.
Corrêa do Lago também criticou Donald Trump, que utilizou o etanol brasileiro e o desmatamento ilegal como argumentos para abrir investigações comerciais contra o Brasil. “O presidente Trump precisa receber informações mais corretas sobre o Brasil”, afirmou.
Quanto à redução do uso de combustíveis fósseis, o embaixador destacou que o termo “transitioning away” (afastamento progressivo dos fósseis) já foi aprovado na COP28, em Dubai. Já em relação a China e União Europeia, dois dos maiores emissores de carbono, Lago observou que ambos ainda não apresentaram suas novas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas).
Apesar das dificuldades, o presidente da COP30 mantém otimismo: “Tenho uma tendência a ser otimista, então vejo o copo metade cheio. Ou seja, houve um engajamento das delegações, apesar das divergências, algumas bastante vocais. Aconteceram vários avanços nos textos que precisamos aprovar em Belém”.
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