Durante evento realizado em Curitiba na última quinta-feira (12), o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), voltou a flertar com ideias separatistas e xenófobas ao defender publicamente a criação de um “país do Sul”, formado pelos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A fala foi feita durante o Construa Sul, evento do setor da construção civil, e foi aplaudida pelo governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), que também participou do encontro ao lado de Eduardo Leite (PSD), governador do Rio Grande do Sul.
Jorginho fez menção direta ao movimento “O Sul é o Meu País” e ironizou uma eventual ruptura territorial com o restante do Brasil: “Tem dois candidatos a presidente da República. Daqui a pouco, se o negócio não funcionar muito bem lá para cima, nós passamos uma trena para o lado de cá e fazemos ‘o Sul é o nosso país’”, declarou, em referência depreciativa às regiões Norte e Nordeste. Ele também comentou, em tom de brincadeira, sobre o recente acordo territorial com o Paraná, que transferiu 490 hectares para Santa Catarina: “Eu peguei um pedaço [do Paraná] agora. Você [Ratinho Junior] que me deu… mas não tinha muita coisa boa em cima, não.”
Confira:
O discurso gerou reações críticas nas redes sociais e em meios políticos, mas contou com o entusiasmo de Ratinho Jr., que esteve nesta sexta-feira (13) no Pará em movimentações de pré-campanha à Presidência da República. A visita foi articulada pelo senador Zequinha Marinho (Podemos) e pelo prefeito de Ananindeua, Dr. Daniel Santos (PSB), que recebeu Ratinho com festa e elogios.
“Recebendo hoje o governador do Paraná Ratinho Junior aqui em Ananindeua. Um momento de troca, aprendizado e construção de caminhos em conjunto. Seguimos juntos, compartilhando ideias para transformar ainda mais a vida das pessoas!”, escreveu Daniel em publicação exaltando o encontro.
Nos bastidores, aliados destacaram que o prefeito fez questão de dizer que pretende trazer ao Pará as “boas práticas” da gestão de Ratinho — mesmo após o governador ter aplaudido declarações que sugerem a separação do Sul do Norte e Nordeste do país.
A problemática da fala
A defesa da separação da Região Sul do restante do Brasil, feita pelo governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, resgata discursos historicamente marcados por xenofobia, racismo estrutural e uma visão distorcida da realidade nacional. Ao propor um “país do Sul” em contraposição ao “resto” do Brasil — especialmente Norte e Nordeste —, o discurso reforça estereótipos de superioridade econômica, cultural e até racial, baseando-se na ideia de que o Sul é mais produtivo e civilizado. Esse tipo de narrativa simplifica de forma perigosa as complexas relações econômicas e sociais do país, deslegitima outras regiões e alimenta uma xenofobia interna que remete a traços coloniais de exclusão. Ao associar problemas nacionais às regiões mais miscigenadas e menos favorecidas, esse tipo de fala não apenas divide o país, mas também sustenta preconceitos velados contra negros, indígenas e nordestinos.
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