Um relatório divulgado pela organização Changing Markets Foundation acusa o agronegócio brasileiro de promover uma estratégia coordenada de greenwashing — ou “lavagem verde” — às vésperas da COP30, que ocorre em Belém. Intitulado “A Agenda da Carne: Excepcionalismo Agrícola e Greenwashing no Brasil”, o documento aponta que o setor usa sua influência política e econômica para enfraquecer políticas ambientais, moldar a narrativa climática do país e escapar de regulações sobre emissões de gases de efeito estufa.
Omissão do metano e lobby na COP30
O estudo destaca que, embora o Brasil seja o quinto maior emissor mundial de gases de efeito estufa e o maior exportador global de carne bovina, o metano proveniente da pecuária — responsável por mais de 75% das emissões agrícolas nacionais — foi omitido da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), documento que orienta as metas climáticas do país. A fundação afirma que o lobby do setor agroindustrial impediu que o gás fosse incluído nas metas, blindando os principais emissores de qualquer tipo de controle.
O relatório cita ainda a forte presença de empresas como JBS, Marfrig e Minerva na COP30, participando de eventos e patrocinando centros de mídia, além de promover campanhas publicitárias sobre “carne de baixo carbono”. Segundo a Changing Markets, esses esforços têm como objetivo “controlar a narrativa ambiental” e apresentar a indústria como parte da solução climática, apesar de seu papel central nas emissões de gases de efeito estufa.
Influência política e fragilidade regulatória
A fundação afirma que a bancada ruralista domina o Congresso Nacional, garantindo ao setor uma “posição privilegiada” e proteção contra regulações mais rígidas. O relatório cita como exemplo o Projeto de Lei da Devastação, aprovado em 2025, que reduziu a fiscalização ambiental sob o argumento de “diminuir a burocracia”. Também critica a exclusão da agricultura do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões, que regula apenas cerca de 30% das emissões nacionais.
O documento aponta falhas em políticas públicas como o Plano ABC+, voltado à agricultura sustentável, e o Cadastro Ambiental Rural (CAR), enfraquecido por irregularidades e falta de fiscalização. “Milhões de hectares de floresta foram registrados ilegalmente ou apagados dos cadastros”, diz o relatório, alertando que a conivência política ameaça o cumprimento das metas climáticas brasileiras.
Brasil entre avanços e contradições
O relatório reconhece avanços recentes do governo Lula (PT), como a redução do desmatamento em 2024 e o combate à fome com foco na agricultura familiar. No entanto, adverte que esses esforços convivem com a manutenção de privilégios para o agronegócio, que continua concentrando terras, crédito e poder político.
Segundo a Changing Markets, a COP30 será um teste para o país: “O Brasil poderá escolher se quer mostrar ao mundo um futuro guiado pela ciência climática e pela justiça social, ou continuar promovendo o status quo sob uma máscara verde”.
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