Pesquisadores a bordo do navio Ciências do Mar II concluíram na quarta-feira (5) uma expedição para estudar o sistema de recifes da foz do rio Amazonas, tema central de reportagem da Revista Piauí publicada nesta sexta (7). O trabalho ocorre dias antes da COP30, em Belém, e reacende o debate sobre a exploração de petróleo na mesma região, recentemente autorizada pelo Ibama.
Descoberta e incertezas
Segundo a Piauí, a missão envolveu 17 cientistas de seis universidades, que percorreram mil quilômetros para investigar a biodiversidade marinha entre o Pará e o Amapá. O oceanólogo Eduardo Tavares Paes, da Ufra, afirmou que a equipe coletou amostras “desde bactérias até baleias”, em um ambiente dominado por algas calcárias, esponjas e rodolitos. No entanto, o biólogo Rodrigo Leão de Moura (UFRJ), responsável por estudos de 2016, admitiu que ainda não se conhece a real dimensão dos recifes da foz do rio Amazonas, estimada entre 9,5 mil e 56 mil km².

Ceticismo e contrapontos científicos
Pesquisas revisadas por instituições como a UFF e a Fapesp questionam se a estrutura pode ser chamada de recife ativo. Estudos geológicos indicam que boa parte das formações seria composta por lajes calcárias antigas, com pouca cobertura viva. Cientistas apontam que o sistema poderia ser remanescente de ambientes submersos há mais de 15 mil anos, com baixa taxa de crescimento e limitada fotossíntese devido à turbidez das águas da foz.
Exploração e riscos ambientais
O Ibama liberou a perfuração de um poço na Bacia da Foz do Amazonas, onde outros oito processos de licenciamento tramitam. Ambientalistas consideram a decisão prematura diante das lacunas sobre o ecossistema, enquanto pesquisadores defendem mais estudos antes de expandir a exploração. Já o oceanólogo Eduardo Paes alerta que o maior risco não está no mar, mas na má gestão dos futuros royalties, caso o petróleo seja explorado em larga escala.
Desafio entre ciência e desenvolvimento
A área dos recifes da foz do rio Amazonas pode ter importância econômica e pesqueira para o Pará e o Amapá, mas ainda carece de mapeamento detalhado e de consenso científico. Enquanto parte da comunidade acadêmica defende o reconhecimento e a proteção do bioma, outros especialistas pedem cautela antes de classificá-lo como um recife pleno. O impasse expõe o desafio de conciliar a produção de energia com a preservação ambiental em um dos ecossistemas menos conhecidos do país.










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