Rastreamento de gado no Pará avança sem metas ambientais e preocupa órgãos de controle - Estado do Pará Online

Rastreamento de gado no Pará avança sem metas ambientais e preocupa órgãos de controle

Programa estadual identificou menos de 0,2% do rebanho em um ano; especialistas apontam risco de ineficácia sem cruzamento com dados ambientais

Anunciado em 2023 como resposta às pressões internacionais por maior transparência na cadeia da carne, o sistema de rastreamento de gado do Pará avança de forma lenta e com lacunas. Até julho de 2025, apenas 47,9 mil bois e búfalos haviam sido identificados, o que representa menos de 0,2% do rebanho estadual estimado em 25 milhões de cabeças.

Baseado na aplicação de dois brincos por animal, sendo um eletrônico e outro visual, o programa segue restrito ao monitoramento sanitário, sem incorporar dados ambientais como o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e áreas embargadas. O procurador Ricardo Negrini, do Ministério Público Federal (MPF), avalia que, sem essa conexão, o sistema não terá efeito no combate ao desmatamento associado à pecuária.

O sistema, criado por decreto estadual, é administrado pela Adepará, agência responsável pela defesa agropecuária, o que reforça a ênfase sanitária em detrimento da fiscalização ambiental. Documentos oficiais preveem que até o fim de 2025 todos os animais movimentados estejam identificados, mas os números atuais mostram atraso em relação à meta.

Entre pecuaristas a iniciativa divide opiniões; parte dos produtores vê o rastreamento como essencial para garantir competitividade internacional, enquanto outros reclamam do custo, da perda dos brincos e da falta de infraestrutura para adesão. A Associação dos Produtores Rurais Independentes da Amazônia (Apria) chegou a acionar a Justiça contra o programa.

Organizações privadas e entidades de pesquisa defendem a continuidade do sistema, mas alertam que sua eficácia depende da integração com bases ambientais e da validação do CAR. Até julho, apenas 8% dos 347 mil imóveis rurais do Pará haviam concluído essa etapa, o que mantém brechas para propriedades embargadas continuarem acessando benefícios públicos.

A pressão externa aumenta com a proximidade da entrada em vigor da lei europeia que proíbe, a partir de 2026, a importação de produtos oriundos de áreas desmatadas. Para o pesquisador Paulo Barreto, do Imazon, “não está claro como o Estado vai alcançar a meta de identificação em tempo hábil”.

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