Psica aposta nas aparelhagens e enfrenta estigmas sobre cultura periférica - Estado do Pará Online

Psica aposta nas aparelhagens e enfrenta estigmas sobre cultura periférica

Além de destacar a importância do festival para desmarginalizar as aparelhagens, os diretores do Psica definem o publico como “Periféricos alternativos” e dão crédito ao PT pela categoria

Desde 2021, o Festival Psica passou a incluir de forma sistemática as aparelhagens em sua programação, uma decisão que, segundo Jeff Moraes, mudou o rumo do evento. Ele lembrou que, por muito tempo, festivais alternativos realizados na cidade raramente abriam espaço para esse tipo de expressão cultural, mesmo sendo um dos pilares da música popular do Pará.

Jeff relatou que a resistência vinha acompanhada de preconceitos, com associações diretas entre aparelhagens e criminalidade. “A gente ouviu muito que, se trouxesse aparelhagem, ia trazer ladrão de bolsa”, afirmou. Para ele, esse tipo de leitura reforça a marginalização de uma cultura inteira e ignora que episódios de furto acontecem em qualquer grande evento. O diretor também criticou o foco de parte da imprensa nesses casos, em detrimento da valorização dos artistas regionais e nacionais presentes no festival.

Na avaliação de Gerson, a mistura entre artistas locais e de outras regiões fortalece o cenário cultural como um todo. Ele citou encontros no palco, como parcerias entre artistas de diferentes trajetórias, como exemplos de trocas que ampliam visibilidade e criam novas possibilidades para quem está se apresentando.

Periféricos Alternativos

Ao falar sobre quem ocupa o Psica hoje, Jeff Moraes disse que o festival acabou ajudando a consolidar um público específico, que ele chama de “periféricos alternativos”. São jovens da Região Metropolitana de Belém que estão na universidade ou acabaram de sair dela, muitos deles os primeiros da família a acessar o ensino superior.

Segundo o diretor, esse movimento foi impulsionado por políticas públicas implementadas durante os governos do PT, que ampliaram o acesso à universidade e aceleraram esse processo. Com isso, surgiu um público mais exigente culturalmente, interessado em propostas diferentes — um espaço que, na visão dele, quase ninguém estava olhando. “Quando dizem que é um festival de periferia, sempre vem a figura da dona Maria hipotética, mas quem está lá é a filha dela”, comentou.

Jeff também destacou a presença de pessoas vindas de outros estados do Norte, como Amazonas e Amapá. Para ele, apesar das semelhanças culturais, ainda existe uma rivalidade regional desnecessária, e o Psica funciona como um ponto de encontro para aproximar essas realidades.

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