O Vaticano publicou um decreto da Dicastério para a Doutrina da Fé, aprovado pelo Papa Leão XIV, reafirmando que Jesus Cristo é o único redentor da humanidade. O texto orienta os fiéis a não empregarem o título de “corredentora” para a Virgem Maria, por considerá-lo capaz de gerar confusão entre a figura de Cristo e a devoção mariana.
A decisão abre espaço para questionamentos sobre como a nova diretriz poderá influenciar a devoção a Nossa Senhora de Nazaré e o próprio Círio, principal expressão da fé mariana no Brasil. A romaria reúne milhões de devotos em Belém e, historicamente, simboliza o elo entre a religiosidade amazônica e a tradição católica.
Histórico e tentativas de normatização
A festa, iniciada em 1793, homenageia a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, encontrada segundo a tradição às margens do igarapé Murutucu, onde hoje se localiza o bairro de Nazaré, em Belém. O achado é atribuído ao caboclo Plácido José de Souza, que teria construído uma pequena ermida no local. Desde o início, a Arquidiocese de Belém buscou disciplinar a celebração, transferindo a saída da procissão do Palácio do Governo para a Catedral Metropolitana e restringindo o uso da corda em 1926, sob o argumento de que a disputa entre fiéis gerava desordem.
Tensão entre fé popular e hierarquia
Ao longo do século XX, a Igreja tentou equilibrar o caráter devocional e a dimensão profana do Círio, associando a festa à catequese e à imagem institucional da Igreja. Pesquisadores apontam que, a partir da década de 1980, houve esforços para racionalizar a celebração e aproximá-la de uma perspectiva turística e litúrgica controlada.
O novo decreto reforça a orientação teológica tradicional de que a redenção é obra exclusiva de Cristo, e que Maria deve ser venerada como mãe e colaboradora da salvação, mas não como corresponsável pelo ato redentor. O documento enfatiza que a devoção mariana deve sempre conduzir à adoração de Jesus e evitar expressões que possam sugerir igualdade entre ambos.
Com a nova diretriz da Santa Sé, publicada em 4 de novembro de 2025, o debate se renova: a orientação papal pode redefinir a forma como os fiéis paraenses compreendem o papel de Maria, reforçando a centralidade de Cristo sem enfraquecer o simbolismo popular do Círio.
O Portal EPOL solicitou comentário à Arquidiocese de Belém, mas até o fechamento desta edição não obteve retorno. O espaço permanece aberto para manifestação.











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