Mostra ‘Tybyras’ encerra temporada com programação especial no centro de Belém

Inspirado no primeiro caso documentado de morte por LGBTfobia no Brasil, o artista resgata a memória de Tybyra do Maranhão, indígena tupinambá executada por sodomia em 1614 com um tiro de canhão, com anuência da Igreja Católica

Créditos: divulgação

A mostra “Tybyras: Caminhos de uma Amazônia Queer” , do artista Henrique Montagne, chega ao fim neste sábado (22), com uma programação de encerramento que ocupará as calçadas da Passagem Bolonha, no centro de Belém. O evento contará com discoteca de música brasileira, das 10h às 14h, e marcará o encerramento da exposição em cartaz na ELF Galeria .

Uma Amazônia queer e ancestral

A exposição propõe um olhar sobre corpos LGBTQ+ na Amazônia contemporânea, revelando suas presenças em traços negros, indígenas e caboclos. O trabalho de Montagne é um destaque da arte contemporânea amazônica e temdo ganha projeção internacional. Em fevereiro, o artista participou de uma exposição coletiva de arte queer em Portugal , e, em 2022, foi indicado ao Prêmio PIPA , um dos mais prestigiados do Brasil.

Inspirado no primeiro caso documentado de morte por LGBTfobia no Brasil, o artista resgata a memória de Tybyra do Maranhão, indígena tupinambá executada por sodomia em 1614 com um tiro de canhão, com anuência da Igreja Católica. A partir desse episódio, Montagne construiu uma narrativa que atravessa as linguagens do desenho, texto e fotografia , conectando-se com sua ancestralidade e identidade indígena-mestiça .

Percursos e resistências

Para compor a exposição, o artista percorreu diversas regiões da Amazônia, incluindo Mairi (Belém), Ilha do Marajó (Soure), Carajás (Marabá, Serra Pelada, Parauapebas, Canaã dos Carajás) e Tapajós (Santarém, Alter do Chão) . Nessas incursões, Montagne registrou e dialogou com indígenas, ribeirinhos, caboclos e mestiços LGBTQ+ , criando um “aldeamento de ideias” sobre identidade e pertencimento.

As obras expostas levantam reflexões urgentes sobre:

  • O apagamento étnico-racial da ancestralidade amazônica e indígena ;
  • O impacto do colonialismo na diversidade sexual e nas expressões de gênero ;
  • A relação entre corpos e natureza, questionando discursos de separação entre ambos .

“Assim como a natureza, somos diversos. Nossos povos originários já reconheceram isso, e é essa pluralidade que resgato em minha arte”, afirma Montagne.

A exposição “Tybyras” foi viabilizada pelo Edital de Pesquisa e Experimentação em Artes Visuais da Lei Paulo Gustavo 2024 .

Serviço

  • Encerramento da mostra “Tybyras: Caminhos de uma Amazônia Queer”
  • Data: Sábado, 22 de fevereiro
  • Horário: 10h às 14h
  • Local: ELF Galeria – Passagem Bolonha, nº 60, bairro Nazaré, Belém
  • Entrada franca

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