Morte de indígena warao em Belém expõe problemas na assistência social municipal

A redação do portal Estado do Pará On-line entrou em contato com o Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores do Sistema Único da Assistência Social da Fundação Papa João XXIII (Funpapa), que relatou diversas dificuldades que os servidores vem enfrentando.

Uma criança indígena da etnia warao morreu de tuberculose em Belém na última sexta-feira (9). O caso expõe um problema na saúde municipal, mas que passa diretamente pelo sucateamento do serviço de assistência social na capital.

A redação do portal Estado do Pará On-line entrou em contato com o Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores do Sistema Único da Assistência Social da Fundação Papa João XXIII (Funpapa), que relatou diversas dificuldades que os servidores vem enfrentando.

A criança indígena morreu em um abrigo, localizado na Campos Sales, que é coordenado pelos próprios warao, mas que poderiam ter melhores condições se a Funpapa tivesse mais funcionários. “O espaço da Campos Sales não é da Funpapa. Existem espaços que os indígenas vivem na cidade, mas são espaços que eles mesmos coordenam, as comunidades warao. Temos uma realidade precarizada na assistência, que não consegue atender essa comunidade. Não temos servidores suficiente pra fazer abordagem de rua, acompanhamento junto às famílias. Fica muito complicado fazer esse acompanhamento integral”, disse Rayme Sousa, educador social e vice-presidente do sindicato.

Rayme expõe dificuldades dos servidores em realizar os atendimentos. Os problemas vão desde a falta de pessoal até escassez de produtos básicos e transporte. “Não temos veículos disponíveis. Existe uma escala, onde cada unidade deve usar o veículo. Além disso, há uma cota de combustível muito baixa, que não atende a demanda. Entre o dia 15 e 20 de cada mês, já não tem mais combustível disponível. E aí fica difícil de cumprir as agendas. Como essa criança warao morreu de tuberculose, é um problema de saúde, que é um outro eixo, mas passa pela assistência. A gente faz parte de um atendimento, mas a saúde também é precarizada. Temos problemas muito graves nos consultórios de rua, que é a falta de itens básicos”, relatou.

A última greve que a categoria realizou trouxe algumas melhorias para os centros, porém, os problemas ainda são grandes. “Podemos dizer que houve melhoria em algumas unidades da fundação. Porém, o grande entrave em relação as condições de trabalho é pela ausência de servidores, prédios inadequados, falta de itens básicos, como material de limpeza, higiene, roupas. Temos sete abrigos e não temos licitação pra roupa. É um absurdo isso. Muitas unidades não recebem materiais de limpeza, sabonete, escova, pasta. Estamos com uma sobrecarga muito grande de trabalho.

A fundação já chegou a ter mil servidores efetivos e atualmente temos pouco mais de 600. Atualmente os servidores fazem além da sua jornada de trabalho habitual, fazem horas extras. Está num patamar insustentável. Não temos concurso público há seis anos, então o quadro reduziu quase pela metade”, garante Rayme.

Um dos maiores problemas era a falta de centrais de ar em unidades do município. A população que buscava atendimento e os funcionários sofriam com o forte calor em Belém. Pelo menos esse problema foi solucionado. “Algumas unidades tiveram mudanças, as mais críticas. Porém, as obras ainda não andaram tanto. O CRAS de Icoaraci teve maior mudança, uma reforma foi feita e as centrais de ar foram instaladas, assim como todas as unidades. Isso foi um ganho pra população, que sofria com o calor”, comemora o servidor.

No entanto, o sindicato ainda briga por melhorias salariais. Três acordos foram fechados com a prefeitura, mas a gestão do presidente da Funpapa, Alfredo Costa, comandado pelo prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (Psol), não cumpriu com o combinado. “Os acordos com relação ao nosso plano de carreira, que deveria ser atualizado em março, mas não foi feito. A prefeitura não cumpriu o acordo com nossos salários. O nível fundamental não pode ganhar o mesmo do médio. Isso tá achatando a carreira e a prefeitura não apresentou nenhuma outra proposta”, denúncia Rayme.

Sobre as denúncias, a reportagem entrou em contato com a Funpapa e aguarda um retorno.

Ata da última reunião entre representantes da Prefeitura de Belém e representantes dos servidores da FUNPAPA prova que os compromissos assumidos ainda não foram cumpridos.

Recentemente, em entrevista ao PODERCAST, a vereadora de Belém, Silvia Letícia (Psol), afirmou que várias centrais de ar e itens que os servidores da assistência social estavam precisando foram encontrados no almoxarifado da Funpapa, órgão da prefeitura de Belém sob o comando do ex-vereador Alfredo Costa (PT) e do grupo do ex-senador Paulo Rocha (PT), hoje superintendente da SUDAM.

Assista ao PODERCAST com Sílvia Letícia, na íntegra:

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