Vazamento de chorume, queima irregular de resíduos, presença de lixo hospitalar e ausência de coleta seletiva. Esses são alguns dos problemas denunciados por vereadores e moradores de Belém sobre a atuação da empresa Ciclus Amazônia, responsável pela coleta e destinação do lixo da capital paraense. As denúncias integram a “CPI do Lixo”, protocolada na Câmara Municipal pelo vereador Michell Durans (PSB), com apoio de 23 parlamentares.
Em entrevista ao Estado do Pará Online (EPOL), Michell e o presidente da Câmara, John Wayne (MDB), classificaram como “gravíssimos” os impactos ambientais provocados pela operação da empresa, em especial no entorno do antigo Lixão do Aurá, reativado após o fechamento do aterro de Marituba. “Estamos falando de vazamento de chorume para dentro da comunidade de Santana do Aurá e de uma operação completamente irregular. Isso agride o meio ambiente e coloca em risco a saúde da população”, afirmou John Wayne.
Os parlamentares destacam que o contrato de 30 anos firmado com a Ciclus, no valor de R$ 32 milhões mensais, previa metas que ainda não foram cumpridas, como a construção de um Centro de Tratamento de Resíduos, instalação de ecopontos e integração de cooperativas. “A empresa não entrega o que prometeu. Precisamos de transparência, fiscalização contínua e, se for o caso, rescisão do contrato”, disse Durans.
Moradores da comunidade Olga Benário, vizinha ao lixão, relatam impactos diretos na mobilidade e no cotidiano. Segundo uma moradora ouvida pela reportagem do EPOL, a circulação constante de caminhões da Ciclus na avenida Osvaldão tem gerado caos, buracos, alagamentos e risco a pedestres. “Já fechamos a rua duas vezes e nada foi resolvido. Final de semana é um sufoco para atravessar a via no meio da feira”, desabafa.
Em nota enviada ao EPOL, a assessoria do ex-prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL) negou irregularidades no processo de licitação da Ciclus e atribuiu à atual gestão a responsabilidade pela fiscalização e execução contratual desde 1º de janeiro de 2025. Segundo a assessoria, o contrato passou por aprovação do TCM e teve legalidade reconhecida pela Justiça. A nota ainda reforça que a contratação visava enfrentar uma crise histórica da gestão de resíduos em Belém.
A Ciclus, por sua vez, afirmou que cumpre integralmente as cláusulas do contrato e obteve 100% de desempenho no primeiro ciclo de avaliação técnica, entre outubro de 2024 e abril de 2025. A empresa também destacou que sua atuação reduziu em 60% os pontos de descarte irregular e que mantém diálogo constante com os órgãos de controle. Ainda segundo a nota, um estudo do Núcleo de Controle Ambiental da UFPA atestou a conformidade operacional da concessionária.
A CPI do Lixo deve seguir ouvindo moradores, técnicos e representantes da empresa nos próximos meses. A comissão também deverá convocar ex-dirigentes da Ciclus e autoridades da gestão anterior. Para os vereadores, a apuração deve garantir responsabilizações e corrigir o que chamam de “retrocesso na política de resíduos sólidos de Belém”.
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