Haja conferência do clima para tanto lobista do agronegócio. A presença do setor, que cresce a cada edição da COP, avançou mais uma vez: na COP30, em Belém, o número de representantes ligados ao agro é 14% maior do que no ano passado, em Baku, no Azerbaijão. São mais de 300 integrantes, superando — em volume — delegações oficiais como a do Canadá, a 10ª maior economia do mundo, que levou 220 delegados. Os dados fazem parte de uma investigação do The Guardian e da organização DeSmog.
O que chama atenção é que um em cada quatro lobistas está credenciado dentro de delegações nacionais, com seis deles tendo acesso direto às negociações — um privilégio que preocupa organizações socioambientais. Para Vandria Borari, da Associação Indígena Borari Kuximawara, a presença maciça desses grupos expulsa os povos tradicionais do espaço de decisão.
“Enquanto falam em transição energética, despejam petróleo na bacia amazônica e privatizam rios como o Tapajós para a soja. Isso não é desenvolvimento, é violência”, afirma.
O DeSmog também criou um mapa interativo que revela como corporações como JBS, Bayer e Nestlé atuam nos bastidores para promover soluções “voluntárias” — como compensação de carbono, biocombustíveis e metas de eficiência — que, segundo especialistas, não entregam as reduções profundas necessárias para manter o planeta dentro do limite de 1,5°C previsto no Acordo de Paris.
Fontes ouvidas pela organização reforçam que emissões da agricultura, como metano e óxido nitroso, não podem ser neutralizadas apenas por tecnologia. Seria preciso uma mudança sistêmica, envolvendo combate ao desperdício, dietas de baixa emissão e redução da dependência de combustíveis fósseis.
A data da COP dedicada a alimentação e agricultura também foi marcada pela divulgação de outros relatórios. Um deles, publicado pelo Intercept, mostra que o agronegócio brasileiro intensificou sua atuação de lobby meses antes da conferência. Entre março e outubro, empresas como JBS e Marfrig participaram, promoveram ou anunciaram quase 20 eventos para reforçar sua influência e se posicionar como parte da solução para a crise climática.
Outro levantamento, da Agência Pública, revela que o setor mobilizou cerca de 200 influenciadores nos últimos 12 meses — o dobro do registrado no período anterior. São modelos, apresentadores, médicos celebridades e ativistas conservadores que, por meio de conteúdos leves, humorísticos ou aspiracionais, defendem os benefícios da carne e reforçam narrativas favoráveis ao agro.
Já um relatório conjunto da FAO, do Instituto Ambiental de Estocolmo, da Conservation International e da The Nature Conservancy (TNC) destaca o papel crucial das florestas para a produção de alimentos. O documento pede políticas públicas e investimentos para transformar essa ciência em ação.
No Brasil, a conversão de áreas florestais em terras agrícolas já reduziu a evapotranspiração em até 30%, elevando temperaturas locais e modificando padrões de chuva. Os autores alertam: proteger as florestas não é apenas uma pauta ambiental, mas uma estratégia global de segurança alimentar.










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