Mãe de criança autista supostamente maltratada por médico em Belém detalha o ocorrido; psiquiatra se manifesta

Entramos em contato com Tayse Leia, mãe de Thiago, a criança supostamente maltratada pelo médico. Ela nos revelou detalhes do ocorrido, informando que tudo começou ainda dentro do consultório. O psiquiatra também se manifestou.

Imagens do um menina autista sendo destratado por um médico.
Reprodução/Redes Sociais. Entramos em contato com a mãe da criança que aparece no vídeo.

O médico psiquiatra Dennys Raniery, que atende por diversos convênios de saúde, foi flagrado tratando de forma inadequada uma criança com transtorno do espectro autista (TEA) durante uma consulta no edifício comercial Real One, no centro de Belém. O caso ocorreu nesta sexta-feira (24).

Neste sábado (25), entramos em contato com Tayse Leia, mãe de Thiago, a criança supostamente maltratada pelo médico. Ela nos revelou detalhes do ocorrido, informando que tudo começou ainda dentro do consultório.

“Começou dentro da sala do psiquiatra. Assim que entramos,  e ao fechar a porta , meu filho não quis ficar lá dentro e começou a pedir para sair. O médico já não gostou disso”, revelou.

A mãe revelou que após seu filho pedir para sair da sala, Dennys começou a gritar com a criança.

“Após a entrada de sua secretaria, o Thiago viu a porta aberta, fazendo força pra sair, e aí ele começou a chorar, insistindo em sair da sala. O psiquiatra olhou e gritou com ele ‘Ei cara te contém, te controla’, como se tivesse falando com um adulto. E continuou gritando. Aí falei que ele não precisava gritar porque eu sabia que meu filho poderia entrar em crise”, detalhou.

Foi a primeira vez de Thiago se consultou com o médico. Tayse informou que tentou agendar uma consulta pelo Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) da Unimed Belém com outro psiquiatra, porém, mas havia vaga. Foi aí que marcou com Dennys.

“Primeira vez! Tentei outro médico pelo SAC da Unimed, mas não tinha mais vaga”, informou.

A mãe informou que ela e seu filho foram expulsos do consultório. “Foi horrível tudo o que passamos”. A situação pirou após a criança atirar uma massinha de modelar que estava nas mãos em direção ao médico.

“Ele nos mandou sair, dizendo ‘não  vou atender ele’, saiam daqui. Após os gritos dele com o meu filho, a criança começou a se morder e a se bater. Ele estava com uma massinha de modelar nas mãos e jogou. Por esse motivo, ele disse que meu filho era uma ameaça para ele. Que meu filho havia agredido ele. Ainda na sala , ele disse uma palavra de baixo calão: ‘Porra contém teu filho, controla ele, ele não é teu filho? gritando o tempo todo”, disse. E ele não mudou o comportamento na recepção, continuou gritando e abriu a porta para sairmos”, completou.

Caso grave

Segundo a doutora em Políticas Públicas, Alcione Costa, o caso é grave, pois envolve uma pessoa com dupla vulnerabilidade: ser uma Pessoa com Deficiência (PCD) e ser criança.

“O médico está em uma posição de autoridade e tem a obrigação profissional e ética de ser um agente promotor dos direitos das pessoas com deficiência psicossocial. Ao se comportar de forma diferente, ele está incorrendo na violação dos direitos humanos e do Estatuto da Pessoa com Deficiência”, explicou.

Fizemos algumas perguntas específicas

Repórter – E as pessoas que estavam na sala, não fizeram nada?

Mãe – No momento ninguém falou nada, mas as filmagens foram de fundamental importância. No momento ninguém falou nada, mas as filmagens foram de fundamental importância. Vou lhe relatar algo.

Repórter – Fique à vontade

Mãe – Havia vários homens ali, eu sinceramente esperava que um deles pudesse levantar e dizer ‘pare de gritar com ela, respeite’. Isso não aconteceu, mas eu, como mãe atípica, estava ali pra defender meu filho e seus direitos. Não podemos deixar que isso volte a se repetir.

Repórter – Você procurou a delegacia especializada e fez um BO, certo?

Mãe – Sim

Repórter – Vocês foram em qual delegacia?

Mãe – Domingos Marreiros.

Repórter – Qual é o nível de suporte do seu filho?

Mãe – Nível de suporte ainda não fechado, mas é de 2 a 3 já.

Posicionamento do médico

Contatado pela equipe do Estado do Pará Online, o médico psiquiatra se pronunciou por meio de nota. Confira na íntegra!

O paciente ao adentrar no consultório, desde o início da consulta estava totalmente descontrolado, agitado, agredindo fisicamente o tio que estava tentando conter o mesmo mas sem eficácia. A criança chutava, dava socos e gritava sem parar. Ela estava em mãos com massinha de modelar e um caderno de capa dura que agitava e arremessava a todo momento. Lançava o caderno e os utensílios em direção ao tio com agressividade.

Falei com os responsáveis mais de uma vez para que se acalmassem e tentassem acalmar a criança mas sem sucesso em nenhum momento. Porém, o paciente pegou o ultensílio grande e pesado (do tamanho de uma bola de tênis) que estava em sua mão e jogou com agressividade – muita força e velocidade em minha direção, atingindo meu rosto.

Ao receber o impacto do material no rosto, imediatamente o joguei para baixo de minha cadeira e pedi novamente que a criança acalmasse e que os responsáveis tentassem conte-la. Sem sucesso novamente. A criança continuava solta, agressiva, resistente a tentativa de tio de contê-la e com o todos os materiais em mãos e risco de pegar outros (mais pesados e mais arriscados) que estavam disponíveis em consultório.

Dessa forma, entendi que não seria possível o atendimento com a presença do paciente agitado e agressivo, sem controle como estava.

Solicitei então que a criança e o tio se retirassem da sala e esperassem que eu finalizasse o atendimento com mãe. Pedi para que a mesma ficasse em consultório pois com o que vi e com seu relato materno já seria de grande valia para a minha conduta.

A criança já possuía um diagnóstico, segundo a própria genitora (que não me cabe expressar por sigilo de ética profissional).

Então, sugeri que a genitora permanecesse em sala para que eu pudesse prescrever as medicações adequadas ao caso, fazer todos os documentos necessários.

Porém, a mãe se recusou a conduta final do atendimento médico. Tornando-se relutando as minhas tentativas de finalização da consulta. Prontamente, recusou prescrição e demais condutas que me coloquei disponível a realizar. A responsável, então, saiu do consultório médico junto com paciente e outro responsável.

Foi nesse momento então, ao perceber resistência dos responsáveis e a contínua agitação da criança, que me recusei a permanecer em atendimento médico. Sugerindo que os mesmos se retirassem do recinto. Diante disso, informo que em nenhum momento foi negado atendimento.

Porém, o vídeo que está sendo amplamente divulgado não possui a visualização do atendimento médico dentro do consultório e foi adulterado em seu conteúdo como um todo – sendo cortado somente para expressar o que se queria.

Como médico psiquiatra, entendo a importância do acolhimento e do bem-estar físico e mental dos meus pacientes.

Tenho outros pacientes com diagnósticos semelhantes e tantos outros transtornos mentais e valorizo suas queixas.

Entendo suas realidades e suas demandas e estimulo familiares a participar ativamente das suas consultas. Cooperando também para melhor avaliação e apoio durante todo o tratamento médico.

Contudo, nunca havia passado por essa situação de ser agredido fisicamente e ter me sentido ameaçado pelo paciente e pouca efetividade de responsáveis em contenção.

Opto muitas vezes nesses casos até por consultas domiciliares ou tele-medicina já que manteria o paciente seguro em ambientes familiares e conhecidos.

Dessa forma, tomei uma atitude firme e assertiva naquele momento pensamento no bem estar de todos – meu, dos meus colaboradores e dos demais pacientes que estavam aguardando atendimento.