O relatório da Polícia Federal, divulgado nesta quarta-feira (18) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), revelou que a chamada “Abin paralela” — estrutura ilegal de monitoramento dentro da Agência Brasileira de Inteligência durante o governo Jair Bolsonaro — espionou não apenas opositores, jornalistas e religiosos, mas também aliados do próprio ex-presidente.
Entre os monitorados está o paraense José Altino Machado, uma das principais lideranças do garimpo na Amazônia Legal. Altino é diretor da Associação dos Moradores do Alto Tapajós (Amot) e fundador da União Sindical dos Garimpeiros da Amazônia Legal (Usagal). Com histórico de atuação no garimpo desde os anos 1970 e 1980, ele foi um dos pioneiros na ocupação da área onde hoje está localizada a Terra Indígena Yanomami.
Altino é um dos representantes dos garimpeiros do rio Tapajós, no Pará. Nessa região, houve um avanço expressivo da atividade garimpeira, especialmente em terras indígenas como a Munduruku e Kayapó.
Mesmo tendo disputado as eleições de 2022 como suplente ao Senado pelo PL — partido de Jair Bolsonaro — Altino foi incluído na lista de monitoramentos irregulares. Segundo o relatório da PF, o motivo do rastreamento estaria relacionado à sigla “RR FEV”, possivelmente uma referência à operação de desintrusão realizada em fevereiro de 2023 na Terra Yanomami, em Roraima.
Na ocasião, Altino acompanhou o processo de retirada de garimpeiros e chegou a afirmar publicamente que não haveria conflito com as Forças Armadas e demais agentes federais envolvidos na operação.
O documento da PF detalha que, além de arquivos e relatórios, foram utilizadas ferramentas tecnológicas como o “First Mile”, um sistema de espionagem capaz de rastrear a localização de celulares em tempo real, sem autorização judicial.
A revelação amplia o escândalo envolvendo o uso indevido da Abin para fins políticos e reforça a gravidade das práticas de vigilância ilegal durante o governo anterior. O caso segue sob investigação do STF e da Polícia Federal.
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