Justiça Federal enquadra 33 acusados em megaesquema de madeira ilegal no Pará - Estado do Pará Online

Justiça Federal enquadra 33 acusados em megaesquema de madeira ilegal no Pará

Decisão transforma em ações penais as denúncias reunidas pela Operação Hardwood, que revelou um esquema dividido em vários núcleos criminosos e expôs a violência que marcou a apreensão de madeira em Uruará.

Ponte foi queimada para obstruir a passagem de fiscais. Foto: Inquérito policial

A ponte incendiada que interrompeu a remoção de madeira apreendida em Uruará não ficou restrita ao impacto imediato daquela noite tensa de maio de 2020. O episódio, antes tratado como ato isolado, reapareceu agora na esfera judicial com peso decisivo: 33 pessoas e 10 empresas passaram oficialmente à condição de rés por crimes ambientais e conexos.

O avanço do processo ocorreu no fim de novembro, quando a Justiça Federal recebeu as denúncias apresentadas pelo MPF, reconhecendo que os delitos atingiram interesses da União, desde a agressão a servidor federal à exploração em terras públicas e indígenas. O órgão divulgou a decisão nesta sexta-feira, 12.

O ataque ao comboio do Ibama é o ponto que amarra toda a investigação. Horas antes da emboscada, fiscais haviam retirado de uma gleba do Incra tratores, caminhões e 60 toras de ipê e cumaru, apreendidos durante uma operação de rotina. A retirada dos bens seguia para Uruará quando pneus em chamas bloquearam uma ponte e um dos agentes foi atingido no rosto por uma garrafa de vidro. A equipe precisou recuar, e os manifestantes aproveitaram para reaver os veículos tomados pela fiscalização.

O que parecia revolta espontânea não resistiu ao escrutínio de mensagens, áudios e quebras de sigilo feitas pela Polícia Federal e pelo MPF. As apurações reconstruíram o episódio como peça de um engrenado esquema de exploração ilegal de madeira, corrupção e lavagem de dinheiro, dividido em vários núcleos de atuação.

Núcleos revelados pela investigação
A complexidade do caso levou o MPF a estruturar as denúncias em seis frentes distintas, todas agora convertidas em ações penais:

  • Extração ilegal: desmatamento em terras públicas e avanço sobre áreas do Incra e a Terra Indígena Arara, mesmo após embargos. Laudos com imagens de satélite confirmaram a continuidade dos cortes.
  • Reação violenta: grupo responsável pela emboscada de 5 de maio de 2020. Áudios e mensagens identificaram quem planejou, articulou e executou o ataque, além de quem ocultou os veículos.
  • Corrupção de agentes públicos: policiais militares recebiam propina para liberar cargas e evitar fiscalizações.
  • Esquema de ‘esquentamento’: empresários usavam Guias Florestais falsas para dar aparência legal a madeira clandestina, com participação de uma madeireira que servia como fachada.
  • Fraudes e logística: venda e beneficiamento de madeira clandestina, manipulação de créditos florestais e emissão de documentos fraudulentos.
  • Falsidade ideológica em larga escala: notas frias e créditos fictícios para encobrir madeira retirada de Uruará e Medicilândia, enquanto ERBs mostravam que os caminhões jamais passaram pelas cidades indicadas nas guias.

Provas e enquadramentos
Interceptações telefônicas, análises bancárias e laudos técnicos do Sisflora revelaram discrepâncias enormes entre estoques físicos e registros digitais das empresas envolvidas. A partir desse material, o MPF atribuiu aos réus crimes como organização criminosa, lavagem de capitais, corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica, receptação qualificada, obstrução de fiscalização, desmatamento em terras públicas e associação criminosa.

O processo segue agora para a fase de instrução, onde o conjunto de provas será confrontado com as defesas dos acusados.

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