Fazenda de R$ 16 milhões, Rolex e avião: os bens de luxo apreendidos do prefeito de Ananindeua - Estado do Pará Online

Fazenda de R$ 16 milhões, Rolex e avião: os bens de luxo apreendidos do prefeito de Ananindeua

MPPA confirma apreensão de fazenda de R$ 16 milhões, aeronave de R$ 10,9 milhões, relógios de luxo e maquinário agrícola durante ação que resultou no afastamento do prefeito do cargo.

O Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) divulgou nesta terça-feira (5) os detalhes da Operação Aqueronte II / Hades, que levou ao afastamento cautelar do prefeito de Ananindeua, Dr. Daniel Santos (PSB), e à apreensão de um vasto patrimônio considerado incompatível com sua declaração oficial de bens. A investigação aponta um dos maiores esquemas de corrupção e desvio de recursos públicos já registrados no município.

Durante a operação, foram bloqueados mais de R$ 500 milhões em bens de 16 pessoas físicas e jurídicas. Dr. Daniel é o principal alvo, com R$ 131 milhões em patrimônio congelado pela Justiça. Entre os bens estão:

  • Uma fazenda em Tomé-Açu, avaliada em R$ 16 milhões
  • Uma aeronave de R$ 10,9 milhões, adquirida com recursos de empresas contratadas pela prefeitura
  • Relógios de luxo, como modelos Rolex e Audemars Piguet, avaliados entre R$ 2,5 e R$ 4 milhões
  • Maquinário agrícola, tratores e implementos
  • Um apartamento de luxo em Fortaleza (CE), onde parte dos bens foi localizada
  • Equipamentos eletrônicos e documentos que, segundo o MP, comprovam o esquema fraudulento

As apreensões aconteceram simultaneamente no Pará e no Ceará. Em Fortaleza, a Polícia localizou 17 relógios de alto valor no imóvel alugado por Dr. Daniel. No entanto, a aeronave ainda não foi apreendida, pois se encontra fora do estado. A Justiça aguarda a apresentação voluntária do bem.

Fachadas empresariais e pagamentos cruzados mascaravam desvio de verba pública

De acordo com o MPPA, a empresa JD Agropecuária, em nome do prefeito, era usada como fachada para movimentações ilegais. Editais de licitação supostamente eram entregues antecipadamente a empreiteiras favorecidas, como Edifica Construtora, Everest Empreendimentos, Martins Engenharia, Autamed, JR Empreendimentos e DSL Construtora — esta última com R$ 127 milhões bloqueados na Justiça.

Essas empresas, além de vencerem contratos milionários com a prefeitura, teriam realizado pagamentos diretos por bens pessoais de Dr. Daniel e aliados, como a aeronave de R$ 10,9 milhões.

Testemunhos e documentos comprovam envolvimento direto do prefeito

A ex-proprietária da fazenda em Tomé-Açu, Bruna Eldes, afirmou que parte do pagamento foi feito por empreiteiras investigadas, e que contas da propriedade eram pagas pela JD Agropecuária.

Outro depoimento chave foi do empresário Ronaldo Souza, da construtora R Souza, que revelou ter sido obrigado a pagar despesas em nome do prefeito. Após colaborar com a investigação, recebeu R$ 800 mil da Prefeitura, o que levantou ainda mais suspeitas.

Investigação continua e pode alcançar novos alvos

A operação já conta com quase 400 páginas de documentos, extratos bancários e registros de transferências que, segundo o MPPA, comprovam a existência de uma quadrilha com atuação sistêmica dentro da Prefeitura de Ananindeua.

“Aqui não se trata de especulação ou narrativa. Temos provas concretas, contratos, transferências e testemunhos que apontam para um esquema bem estruturado de desvio de dinheiro público”, afirmou o promotor Arnaldo Azevedo, coordenador do Centro Integrado de Investigação (CII).

Apesar do afastamento e do bloqueio recorde de bens, nenhum valor em espécie foi encontrado durante as buscas.

Prefeito declarou R$ 4,8 milhões nas eleições de 2024

Nas eleições de 2024, Dr. Daniel declarou R$ 4,8 milhões em patrimônio, valor que representa apenas uma fração dos bens apreendidos na operação Hades. A diferença de quase 300% reforça a suspeita de enriquecimento ilícito.

Próximos passos

O MPPA pretende ampliar o período analisado nas próximas fases da operação, que por ora se concentra em contratos e movimentações feitas entre 2023 e 2025. A suspeita é de que o esquema seja mais antigo e envolva outros agentes públicos.

A suspensão do sigilo processual foi solicitada para garantir transparência e direito à defesa. Ainda não há data para o depoimento de Dr. Daniel, que, segundo o MP, deve explicar à sociedade e à Justiça a origem de seu patrimônio.

Leia também: