Fapesp vê COP 30 como oportunidade para enfrentar crise climática

Especialistas esperam que o evento em Belém traga avanços concretos e compromissos mais ambiciosos para conter o aquecimento global.

Desde o primeiro relatório do IPCC em 1990 e após 29 edições da Conferência das Partes (COPs), as emissões globais de carbono continuam em alta, atingindo um recorde de 57,1 gigatoneladas de CO2e em 2023. A meta do Acordo de Paris, de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C ou, no máximo, 2°C, parece cada vez mais distante. A saída dos Estados Unidos do acordo pela segunda vez agrava ainda mais o cenário, tornando o desafio climático mais complexo.

A COP29, realizada em Baku, no Azerbaijão, terminou com o compromisso de países desenvolvidos investirem pelo menos US$ 300 bilhões anuais nos países em desenvolvimento para redução de emissões e adaptação climática. A expectativa é que esse valor atinja US$ 1,3 trilhão até 2035. No entanto, estudos indicam que as necessidades financeiras superam trilhões de dólares anuais, demonstrando a insuficiência dos acordos firmados até o momento.

A próxima edição, a COP30, será sediada em Belém, no coração da Amazônia, um local altamente simbólico para o debate climático. O evento reunirá mais de 40 mil pessoas, incluindo representantes de governos, cientistas, ativistas e observadores. Há grande expectativa de que a conferência traga avanços concretos no enfrentamento da crise climática, especialmente para países tropicais, que sofrem impactos mais severos.

O físico Paulo Artaxo, integrante do IPCC, alerta que a prioridade deve ser a redução drástica das emissões, especialmente pela eliminação da queima de combustíveis fósseis. Caso a trajetória atual se mantenha, a elevação da temperatura global pode chegar a 4,3°C. Mesmo com a implementação rigorosa do Acordo de Paris, a elevação ainda ficaria acima de 2,8°C, patamar considerado perigoso para a estabilidade climática.

A pesquisadora Thelma Krug destacou a lentidão das decisões na ONU, que precisam do consenso de 196 países. Como exemplo, citou as negociações sobre pagamento por redução de emissões florestais, que levaram dez anos para serem regulamentadas e, mesmo assim, ainda não foram efetivamente implementadas. O tempo necessário para aprovar e aplicar medidas eficazes é uma grande barreira para o enfrentamento da crise.

Karen Silverwood-Cope, do WRI Brasil, ressaltou que o Brasil tem conseguido cumprir suas metas de redução de emissões, principalmente devido à queda do desmatamento na Amazônia. Entretanto, ela alerta que, após 2030, o país precisará enfrentar um novo desafio: a crescente participação do setor energético nas emissões nacionais. Isso exige planejamento estratégico para garantir um modelo sustentável de desenvolvimento.

A COP30 pode representar um marco para o Brasil, reforçando seu protagonismo global e consolidando medidas de governança climática mais eficazes. A crise climática exige ações não apenas de mitigação, mas também de adaptação, para garantir a sustentabilidade social e econômica. Especialistas esperam que o evento em Belém traga avanços concretos e compromissos mais ambiciosos para conter o aquecimento global.

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