“Estão brincando com vidas”, denuncia presidente do CRM durante escuta do MPF sobre atrasos na saúde de Belém - Estado do Pará Online

“Estão brincando com vidas”, denuncia presidente do CRM durante escuta do MPF sobre atrasos na saúde de Belém

Em escuta pública realizada nesta terça (14), profissionais da saúde denunciaram atrasos salariais, precarização e falta de transparência na gestão das UPAs; MPF deu prazo de 10 dias para a prefeitura apresentar documentos

Estão brincando com vidas. Os profissionais estão sendo explorados, trabalhando sem receber.” A frase, dita em tom de indignação pela presidente do Conselho Regional de Medicina do Pará (CRM-PA), Tereza Cristina de Brito, marcou a escuta pública realizada nesta terça-feira (14) pelo Ministério Público Federal (MPF), em Belém, para apurar denúncias de atrasos salariais e falhas na gestão das Organizações Sociais (OSs) que administram as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da capital.

O encontro, conduzido pelo procurador da República Patrick Menezes, reuniu representantes da Prefeitura de Belém, da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), e de categorias como médicos, enfermeiros e farmacêuticos. Ao final, o MPF determinou um prazo de 10 dias para que a prefeitura apresente relatórios e documentos de fiscalização sobre os contratos com as OSs.

Durante a reunião, a prefeitura admitiu ter tomado conhecimento dos atrasos salariais por meio das manifestações dos profissionais, e não a partir de fiscalizações próprias. De acordo com os representantes da Sesma, o controle dos contratos é feito mensalmente com base nas notas fiscais e relatórios de prestação de serviço apresentados pelas organizações, que recebem conforme o funcionamento das unidades.

A presidente do CRM-PA, no entanto, contestou a versão da prefeitura e denunciou o colapso no atendimento e a falta de transparência nos contratos. Segundo ela, há profissionais com até 10 meses de salários atrasados em unidades como as UPAs da Terra Firme, Marambaia, Jurunas e Sacramenta, e a situação estaria afetando diretamente o atendimento à população.

“Tem colegas atendendo 120 pacientes em 12 horas de plantão, sem receber há meses. O portal da transparência foi suspenso. Se não há nada errado, por que esconder? A população e os trabalhadores merecem respostas”, criticou Tereza Cristina.

Ela também denunciou que as OSs terceirizam serviços de forma irregular, contratando empresas menores para dividir funções como nutrição, farmácia e radiologia, o que dilui responsabilidades.

“Essas metas de produção impostas pela secretaria são uma forma de exploração. Profissionais com carga exaustiva, sem insumos e sem salários. Isso é desumano”, afirmou.

Os representantes da Sesma disseram que há comissões internas de fiscalização e que novas regras estão sendo implementadas para vincular o pagamento das OSs ao número de atendimentos realizados. A secretaria também informou que as próximas contratações deverão passar por avaliação do Conselho Municipal de Saúde, como forma de fortalecer o controle social sobre os gastos.

O procurador Patrick Menezes destacou que o MPF irá analisar os documentos e avaliar medidas legais caso sejam confirmadas irregularidades.

“Nosso objetivo é entender se o modelo de gestão por organizações sociais tem sido eficiente ou se está agravando os problemas na saúde pública de Belém”, afirmou durante a reunião.


Contexto
As denúncias de atrasos e precarização nas unidades de saúde de Belém se intensificaram nos últimos meses. Profissionais que atuam nas UPAs da Terra Firme e Marambaia afirmam estar há mais de quatro meses sem pagamento. O caso também é acompanhado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), que investiga o não cumprimento de obrigações trabalhistas pelas OSs.

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