Desde que decidiu ser candidato a deputado estadual, ainda em 2018, no meio do seu segundo mandato de vereador de Ananindeua, Dr Daniel Santos tem apenas 13 anos de atuação política e já está em sua terceira filiação partidária. Em todas as vezes que largou os partidos pelo quais passou, deixou uma penca de queixas de quem o ajudou a chegar onde chegou.
“Bancado” por Manoel Pioneiro, Daniel foi eleito vereador de Ananindeua em 2012, tendo apenas 25 anos e reeleito em 2016 como o vereador, desta vez como o mais votado, quando assumiu a presidência da Câmara Municipal de Ananindeua, onde ampliou a conquista de contratos públicos entre o seu hospital particular, junto à prefeitura e ao governo do estado.
Apoiado pelo prefeito Pioneiro e pelo governador Simão Jatene, na época a principal liderança política do PSDB, Daniel fez fortuna de forma meteórica e desde então vem investindo pesado, tanto na carreira política, quanto nos negócios que dela surgiram. Atualmente, Daniel é apontado como proprietário de aeronaves, diversos imóveis e empresas, além de fazendas dentro e fora do estado do Pará.
Ao sair candidato a deputado estadual em 2018, Daniel contou com a fidelidade e ajuda, na época do também vereador Érick Monteiro, que sendo presidente do PSDB em Ananindeua, abriu mão de sua candidatura a deputado estadual para apoiar Daniel a disputar o mesmo cargo que o fiel amigo pretendia.
Eleito, Daniel resolveu abandonar o PSDB logo após o fim do primeiro turno e pulou para o lado de Helder Barbalho (MDB), que disputava a eleição contra o candidato apoiado por Jatene e o tucanato paraense, o deputado estadual e presidente da ALEPA, Márcio Miranda, na época no antigo DEM.
Como parte do acordo com Helder, Daniel foi apoiado pelo governador eleito para ser o presidente da ALEPA, cargo que lhe abriu novas fronteiras e recursos, tendo o hospital particular Santa Maria, boa parte dos recursos do IASEP, que através de convênio lucrou mais do que todos os hospitais de Ananindeua, conforme se comprova através de investigações do Ministério Público Estadual.
Envolvimento do prefeito e desdobramentos da investigação
Um relatório do Grupo de Atuação Especializado no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) revelou uma disparidade gritante: o Hospital Santa Maria pagou R$ 18,10 por agulhas descartáveis que, na tabela, custam apenas R$ 0,35 a unidade. Segundo os investigadores do Gaeco, as fraudes e os desvios ocorreram entre 2018 e 2022, período em que o lucro líquido do Santa Maria aumentou 838%, pulando de R$ 3 milhões para R$ 108,5 milhões, quando Dr. Daniel ainda estava no quadro de sociedade do hospital, que deixou de forma ainda inexplicável.
A reportagem do Estado do Pará On-line obteve acesso à íntegra do processo contra o prefeito, que tramita em segredo de Justiça. Na época, Daniel respondeu aos questionamentos da imprensa, rechaçando as acusações do Ministério Público (MP), classificando-as como “complô”. Em seu texto de defensa, Daniel disse que a denúncia é “completamente descabida”, e se disse vítima de “prática persecutória”.
Ex-diretora aponta que prefeito de Ananindeua manteve controle financeiro de hospital particular alvo de fraudes
Mesmo após se desligar formalmente da sociedade em 2022, o prefeito de Ananindeua, Dr. Daniel Barbosa Santos, supostamente manteve o controle financeiro do Hospital Santa Maria de Ananindeua (HSMA), atualmente sob investigação por desvio de verbas.
Essa revelação partiu do depoimento de Josynélia Tavares Raiol, ex-diretora do IASEP, órgão que gerencia a assistência médica de servidores estaduais e seus dependentes. Segundo Josynélia, desde que assumiu a direção do Iasep, notou valores superfaturados e faturas excessivamente altas do HSMA em comparação com outras unidades hospitalares da região.
A investigação, conduzida pelo Grupo de Atuação Especializado no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), aponta superfaturamento na compra de materiais e uso de quantidades “descomunais” de equipamentos.
A investigação contra o prefeito de Ananindeua, Dr. Daniel, pré-candidato ao governo do estado em 2026, teve início em maio de 2024. A decisão do Tribunal de Justiça do Pará e a rejeição de um pedido de trancamento do processo pelo ministro do STJ Sebastião Reis Júnior indicam “indícios de envolvimento” do prefeito, que, segundo o MP, seria “supostamente determinante para o sucesso dos empreendimentos ilícitos”.
Embora o prefeito tenha deixado a sociedade do HSMA em 2022, depoimentos apontam que ele manteve o controle financeiro do hospital. A prefeitura e a assessoria de Dr. Daniel rechaçaram as acusações, classificando-as como “descabidas” e parte de uma “prática persecutória da imprensa”, reafirmando a disposição de colaborar com a Justiça. O Hospital Santa Maria também se defendeu, alegando que os serviços e materiais eram atestados e pagos conforme tabela nacional e lamentando o que considera uma “perseguição por motivos políticos”.
O Tribunal de Justiça do Pará e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitaram pedidos de suspensão ou trancamento do processo, indicando a existência de indícios da prática criminosa. A investigação segue em andamento para apurar a extensão dos desvios e o envolvimento de todos os citados.
A encruzilhada partidária
O que parecia um caminho pavimentado para o médico e ex-deputado Dr. Daniel tem se mostrado um percurso cheio de armadilhas. Ele tem se movimentado nos bastidores como uma alternativa à candidatura de Hanna (MDB), na sucessão de Helder Barbalho (MDB), atual governador do Pará, buscando a candidatura ao Governo do Estado e acreditando ter o PSB “em suas mãos”. Contudo, o controle regional pode não ser suficiente na tomada final de decisões da política nacional. Que o diga o ex-presidente do PSB no Pará, Cássio Andrade, que perdeu o controle do partido para Daniel, por orientação do ex-presidente nacional dos “socialistas”, Carlos Siqueira.
Agora, o PSB está sob o comando de João Campos, prefeito de Recife, uma das figuras políticas mais promissoras do país e um nome de peso para o presidente Lula. Aos 30 anos, Campos tem um papel decisivo na condução nacional do partido, o que significa que as alianças locais precisarão de seu aval político. O projeto do Dr. Daniel – que vem costurando apoios tanto na esquerda, quanto na direita, como uma via alternativa a Helder – pode emperrar antes mesmo de tomar forma oficial.
As sombras do “caminho turbulento”: cassação e inelegibilidade no Horizonte
Para além dos desafios partidários, as investigações sobre seu envolvimento Dr. Daniel no escândalo do Instituto de Assistência ao Servidor Público do Pará (IASP) e o Hospital Santa Maria, por si só já coloca uma sombra pesada sobre sua trajetória. Mesmo assim, Daniel foi reeleito prefeito de Ananindeua com mais de 83% dos votos válidos, e conta com uma forte estratégia de comunicação, onde há uma contundente atuação de influenciadores e ativistas digitais, que dia e noite o defendem, colocando-o como um excelente gestor e vítima de perseguição política de Helder, dos veículos de comunicação da família Barbalho e demais veículos de imprensa.
As notícias que circulam apontam para a possibilidade real de o Dr. Daniel ainda sofrer a cassação de seu mandato e ficar inelegível por oito anos. Se as investigações avançarem e as acusações se confirmarem, seu sonho de governo não apenas seria frustrado, mas sua carreira política poderia ser interrompida de forma abrupta e duradoura. A inelegibilidade por quase uma década representaria um golpe devastador, afastando-o completamente das urnas.
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