Cúpula dos Povos prepara pressão por metas climáticas mais incisivas na COP30 em Belém - Estado do Pará Online

Cúpula dos Povos prepara pressão por metas climáticas mais incisivas na COP30 em Belém

Sociedade civil articula mobilização global durante Conferência em novembro devido frustração com resultado da COP29

Crédito: Gabrielle Sodré / MAB

Mais de 700 movimentos sociais, organizações e redes preparam a Cúpula dos Povos, de 12 a 16 de novembro, em Belém, como resposta autônoma à COP30, com foco em justiça climática e defesa dos povos tradicionais. O encontro busca pressionar o governo brasileiro a apresentar metas mais firmes para limitar o aquecimento global e coordena um dia de mobilização mundial em 15 de novembro.

Críticas ao resultado da COP29, em Baku, dão o tom das articulações. Para os organizadores, o pacote de financiamento aprovado (US$ 300 bilhões anuais até 2035) ficou muito aquém dos cerca de US$ 1,3 trilhão reconhecidos como necessários e não estabeleceu obrigações claras aos países desenvolvidos. Eles alertam que a abertura a empréstimos pode ampliar o endividamento dos países mais vulneráveis e fragilizar a resposta à escalada da crise climática, reforçando a cobrança para que o Brasil lidere avanços na COP30.

Depois de uma agenda de incidência iniciada em 2023, a carta política da Cúpula já foi entregue ao presidente Lula, à Secretaria Operativa Nacional da COP30 e a autoridades do Executivo e do Legislativo. A expectativa é reunir cerca de 15 mil participantes – lideranças de mulheres, povos indígenas, camponeses, quilombolas, população negra, juventudes, LGBTQIAPN+, ambientalistas, sindicalistas e defensores de direitos humanos – em uma programação com plenárias, apresentações culturais, marcha global, abertura com “barqueata” pelos rios de Belém e um banquetaço que destacará alimentação de base agroecológica vinda da agricultura familiar. A logística inclui alojamentos coletivos, transporte e cozinhas solidárias.

Entre as vozes que impulsionam a mobilização, Marcio Astrini (Observatório do Clima) afirma que a participação social organizada é estratégica para transformar ambição em resultados e direcionar recursos sem ampliar desigualdades; Sara Pereira (FASE Amazônia) vincula transição justa a direitos efetivos aos povos tradicionais e acesso à água; Thuane Nascimento (Perifa Connection/Coalizão Negra por Direitos) cobra centralidade do racismo ambiental e espaço para populações afrodescendentes nas negociações; Cleidiane Vieira (Movimento dos Atingidos por Barragens) cita impactos de eventos extremos, da enchente no RS à seca amazônica, e pede plano urgente de adaptação; e Gerson Borges (Movimento dos Pequenos Agricultores) critica a influência corporativa e defende o Plano Camponês agroecológico como alternativa real. Redes internacionais como CAN, DCJ e Amigos da Terra reforçam a necessidade de pressão cidadã e de uma agenda transformadora diante do avanço contínuo de combustíveis fósseis e “falsas soluções”.

Finalizando suas diretrizes, a carta da Cúpula propõe transição energética justa, desmatamento zero, responsabilização de grandes corporações, reformas agrária e urbana, fortalecimento da agroecologia, combate ao racismo ambiental e estrutural, proteção de defensores de direitos, políticas para cidades justas, economias populares e feminismo nos territórios. Ao articular esses eixos, os movimentos querem transformar a presença social na COP30 em marco democrático, aproveitando o capital político do Brasil e a visibilidade da Amazônia para recolocar a meta de 1,5°C no centro das decisões globais.

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