Mais de 700 movimentos sociais, organizações e redes preparam a Cúpula dos Povos, de 12 a 16 de novembro, em Belém, como resposta autônoma à COP30, com foco em justiça climática e defesa dos povos tradicionais. O encontro busca pressionar o governo brasileiro a apresentar metas mais firmes para limitar o aquecimento global e coordena um dia de mobilização mundial em 15 de novembro.
Críticas ao resultado da COP29, em Baku, dão o tom das articulações. Para os organizadores, o pacote de financiamento aprovado (US$ 300 bilhões anuais até 2035) ficou muito aquém dos cerca de US$ 1,3 trilhão reconhecidos como necessários e não estabeleceu obrigações claras aos países desenvolvidos. Eles alertam que a abertura a empréstimos pode ampliar o endividamento dos países mais vulneráveis e fragilizar a resposta à escalada da crise climática, reforçando a cobrança para que o Brasil lidere avanços na COP30.
Depois de uma agenda de incidência iniciada em 2023, a carta política da Cúpula já foi entregue ao presidente Lula, à Secretaria Operativa Nacional da COP30 e a autoridades do Executivo e do Legislativo. A expectativa é reunir cerca de 15 mil participantes – lideranças de mulheres, povos indígenas, camponeses, quilombolas, população negra, juventudes, LGBTQIAPN+, ambientalistas, sindicalistas e defensores de direitos humanos – em uma programação com plenárias, apresentações culturais, marcha global, abertura com “barqueata” pelos rios de Belém e um banquetaço que destacará alimentação de base agroecológica vinda da agricultura familiar. A logística inclui alojamentos coletivos, transporte e cozinhas solidárias.
Entre as vozes que impulsionam a mobilização, Marcio Astrini (Observatório do Clima) afirma que a participação social organizada é estratégica para transformar ambição em resultados e direcionar recursos sem ampliar desigualdades; Sara Pereira (FASE Amazônia) vincula transição justa a direitos efetivos aos povos tradicionais e acesso à água; Thuane Nascimento (Perifa Connection/Coalizão Negra por Direitos) cobra centralidade do racismo ambiental e espaço para populações afrodescendentes nas negociações; Cleidiane Vieira (Movimento dos Atingidos por Barragens) cita impactos de eventos extremos, da enchente no RS à seca amazônica, e pede plano urgente de adaptação; e Gerson Borges (Movimento dos Pequenos Agricultores) critica a influência corporativa e defende o Plano Camponês agroecológico como alternativa real. Redes internacionais como CAN, DCJ e Amigos da Terra reforçam a necessidade de pressão cidadã e de uma agenda transformadora diante do avanço contínuo de combustíveis fósseis e “falsas soluções”.
Finalizando suas diretrizes, a carta da Cúpula propõe transição energética justa, desmatamento zero, responsabilização de grandes corporações, reformas agrária e urbana, fortalecimento da agroecologia, combate ao racismo ambiental e estrutural, proteção de defensores de direitos, políticas para cidades justas, economias populares e feminismo nos territórios. Ao articular esses eixos, os movimentos querem transformar a presença social na COP30 em marco democrático, aproveitando o capital político do Brasil e a visibilidade da Amazônia para recolocar a meta de 1,5°C no centro das decisões globais.
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