Uma amostra analisada em Belém colocou o Pará no centro do primeiro registro brasileiro da chamada “gripe K”, variante do vírus influenza A (H3N2). O dado consta no boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, com informações consolidadas até 7 de dezembro.
O material foi coletado em 26 de novembro, poucos dias após o encerramento da COP-30, e inicialmente analisado pelo Laboratório Central do Estado do Pará (Lacen-PA). A confirmação do subclado ocorreu após caracterização genética feita pela Fiocruz, no Instituto Oswaldo Cruz.
Segundo a fundação, o caso foi classificado como importado. “A amostra foi coletada de uma paciente do sexo feminino, adulta e estrangeira, oriunda das ilhas Fiji”, informou a Fiocruz. Não há, até o momento, evidências de transmissão local da variante no País.
A infectologista Nancy Bellei, associada à Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), em entrevista à Associação Paulista de Medicina, reforça que o registro não indica circulação comunitária do vírus no Brasil.
“Há chances de o vírus chegar ao País? Claro. Assim como foi identificado no Pará, pode surgir em outras regiões do Brasil. Os vírus influenza A H3N2 circulam globalmente, costumam surgir no Sudeste Asiático e se espalham pelo mundo. Por isso, é possível que essa variante apareça em uma próxima temporada com maior impacto no Brasil”, diz Nancy.
Dados da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) apontam que a circulação da variante começou na Europa, avançou para Ásia e África e já apresenta crescimento progressivo na América do Norte, incluindo Estados Unidos e Canadá.
Vírus em constante mutação
O pediatra infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), lembra que a alta capacidade de mutação é uma das principais características do vírus da gripe.
“A gripe é uma virose que acomete, anualmente, cerca de 20% da população mundial. Essa característica diferencia o vírus influenza de outros, já que sua rápida mutação permite o surgimento de epidemias que variam conforme a cepa em circulação e sua capacidade de transmissão. Por isso, temos temporadas de maior ou menor gravidade a cada ano”, explica Kfouri.
De acordo com o especialista, a temporada no Hemisfério Norte começou mais cedo e já identificou a circulação do subclado K, mas sem indícios de maior gravidade clínica até agora.
“A temporada no Hemisfério Norte começou mais cedo, e já foi identificada a circulação do subclado K da influenza. Até o momento, porém, não há dados que indiquem maior gravidade, o que costuma ser mais observado em segundas temporadas”, diz Kfouri.
A Opas também afirma que não houve aumento significativo de internações, admissões em UTI ou óbitos associados à gripe K. Os sintomas permanecem semelhantes aos da gripe comum, como febre, dor de garganta, tosse, dor no corpo e dor de cabeça.
Vacinação segue como principal proteção
As vacinas contra a influenza são atualizadas anualmente, com formulações específicas para os hemisférios Norte e Sul. Dados preliminares da Europa indicam que os imunizantes atuais mantêm proteção contra formas graves da doença, mesmo sem serem direcionados exclusivamente ao subclado K.
Para Kfouri, a orientação central é clara.
“A principal recomendação é manter a vacinação em dia.”
No Sistema Único de Saúde (SUS), a vacina contra a gripe é priorizada para crianças de 6 meses a menores de 6 anos, gestantes e idosos, além de outros grupos, como profissionais da saúde, professores, indígenas, pessoas com comorbidades, pessoas com deficiência, caminhoneiros, forças de segurança, população privada de liberdade, entre outros públicos considerados mais vulneráveis.










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