O Fórum Nacional VerDemocracia encerrou nesta quarta-feira (17), em Belém, destacando os efeitos ambientais da propaganda eleitoral e os altos custos das campanhas no Brasil. No sexto painel do evento, juristas e especialistas alertaram para o volume de resíduos produzidos e defenderam práticas mais sustentáveis no processo democrático.
Propaganda e exclusão digital
A desembargadora substituta do TRE-DF, Cristina Neves da Silva, ressaltou que a capital paraense está no centro do debate mundial sobre democracia e meio ambiente. Para ela, a propaganda eleitoral precisa considerar alternativas sustentáveis, mas sem restringir o acesso de grupos excluídos digitalmente, como idosos e pessoas sem acesso à internet. Cristina chamou atenção para o tempo de decomposição de adesivos e plásticos usados em campanhas, que pode chegar a 400 anos, e propôs que cada candidato tenha medida oficial de sua pegada de carbono.

Custos e resíduos eleitorais
O procurador regional eleitoral do TRE-MG, José Jairo Gomes, apresentou dados sobre os gastos da propaganda impressa. Segundo ele, nas eleições municipais de 2024 foram aplicados R$ 1,35 bilhão apenas em material gráfico. Parte desse montante se transforma em resíduos descartados em ruas, praças e cursos d’água, contribuindo para entupimentos e enchentes nas cidades.
José detalhou os danos ambientais do consumo excessivo de papel e plástico. A produção de uma tonelada de papel virgem exige cerca de 100 mil litros de água e o corte de 20 árvores, além de liberar gases de efeito estufa no descarte. Já os plásticos usados em bandeiras e adesivos levam séculos para se decompor, acumulando-se em aterros sanitários e ameaçando a fauna silvestre.
Poluição sonora e visual
O painel também abordou o impacto de comícios, carreatas e carros de som. Em 2024, esses eventos somaram mais de R$ 12 milhões em despesas, além de elevarem os níveis de poluição sonora nas cidades. A propaganda visual, como faixas e outdoors disfarçados, também foi criticada por causar degradação do espaço urbano.
Embora a tecnologia tenha reduzido a dependência de impressos, José destacou que ela não resolve todos os problemas. O uso intensivo de servidores e inteligência artificial também gera poluição e consumo energético. Para ele, a democracia precisa incorporar a sustentabilidade como princípio básico, equilibrando inovação digital e redução de danos ambientais.
Encerrando o debate, os painelistas defenderam que a democracia contemporânea deve ser vivida de forma integrada com a preservação ambiental. “Proteger o meio ambiente não é só algo para agora, mas para o futuro”, afirmou Cristina. Já José concluiu que a democracia é um processo a ser sentido, e não apenas compreendido racionalmente.
Com o fim do VerDemocracia, Belém reforça seu papel como centro das discussões ambientais e eleitorais que ganharão projeção internacional na COP30, marcada para novembro na capital paraense.
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