O primeiro dia oficial da 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas mostrou uma cidade organizada, segura e pronta para receber pessoas de todo o mundo. Delegações, autoridades e jornalistas circularam com facilidade entre os pavilhões, enquanto a programação transcorreu sem sobressaltos, em contraste com o ceticismo e o preconceito que antecederam o evento.
A capital paraense, que durante meses foi alvo de desconfiança e ataques sobre sua capacidade de oferecer infraestrutura e logística, surpreendeu. O transporte público e os serviços de apoio funcionaram dentro do previsto, a segurança pública garantiu tranquilidade aos visitantes, e os espaços da Green Zone e da Blue Zone lotaram com atividades, painéis e negociações de alto nível.
Mais que isso: o primeiro dia já registrou resultados concretos, com avanços em pactos de financiamento climático voltados à proteção da Amazônia, novos compromissos sobre mercado de carbono e anúncios de fundos destinados a comunidades tradicionais e povos indígenas.
Comparativo com outras COPs
A performance de Belém contrasta com episódios vividos em outras conferências recentes. Na COP28, em Dubai, por exemplo, os problemas começaram antes da abertura: delegações enfrentaram alojamentos improvisados sob lonas, ruas parcialmente alagadas por chuvas repentinas e preços de hospedagem e alimentação que chegaram a ser o dobro dos praticados em Belém. A crítica à falta de conexão com a realidade ambiental local também marcou aquela edição, sediada no coração de uma das maiores regiões produtoras de petróleo do planeta.
Vale lembrar que todas as COPs, e de modo geral, eventos internacionais dessa magnitude, enfrentam imprevistos, sejam climáticos, logísticos ou estruturais. O que diferencia uma cidade-sede é a capacidade de resposta e de garantir que esses detalhes não ofusquem o conjunto da realização. O problema é quando um contratempo pontual passa a dominar o noticiário, como se resumisse o evento inteiro. Parte da mídia nacional tem enfatizado esses episódios, repercutido por veículos locais que teriam o dever de mostrar o contexto completo, sem esconder falhas, mas deixando claro que elas não anulam o êxito da organização nem o simbolismo do encontro.
Belém tem feito o dever de casa: é a porta de entrada da Amazônia e transformou o que era visto como desafio em vantagem, conectando a pauta ambiental à realidade de quem vive e protege a floresta. O resultado é um ambiente de debates mais autêntico e uma cidade que se tornou símbolo de resistência e inovação climática.
Tranquilidade e quebra de preconceitos
A sensação predominante entre os participantes foi de tranquilidade e hospitalidade. Delegações elogiaram o acolhimento, a organização dos espaços e o engajamento da população local. A imagem de uma Belém caótica, insegura e despreparada ficou para trás, substituída por uma capital viva, culturalmente vibrante e plenamente capaz de receber um evento global.
Avanços e acordos já firmados
1- Fundo Amazônia Global: novas promessas de aporte vindas de países europeus e asiáticos para financiar conservação e reflorestamento
2- Acordo de Cooperação Amazônica: assinatura de protocolos de cooperação entre os países-membros da OTCA, fortalecendo ações conjuntas de monitoramento climático
3- Financiamento direto para comunidades locais: anúncios de mecanismos de repasse mais ágeis para povos indígenas e ribeirinhos
4- Agenda de descarbonização urbana: Belém lança programa-piloto de mobilidade elétrica e saneamento verde em parceria com agências multilaterais
O novo paradigma
O sucesso do primeiro dia não elimina desafios, mas muda o tom do debate. Belém deixa de ser vista como um risco e passa a ser reconhecida como um modelo possível: o de uma cidade amazônica que recebe, organiza e inspira o mundo. Se mantiver esse ritmo, a COP30 poderá entrar para a história não apenas como a conferência que discutiu a Amazônia, mas como a que foi realizada dentro dela, com dignidade, eficiência e esperança.
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