Por Jorginho Neves, colunista.
Em Santa Luzia do Pará, a Fazenda Cambará, atualmente Acampamento Quintino Lira é reivindicada pelas famílias sem-terra desde 2007 junto ao Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária (Incra) e ao Instituto de Terras do Pará (Iterpa) por se tratar de terra pública grilada que deve ser destinada para fins de reforma agrária.

Em 2009, agricultores vinculados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que plantam grãos, legumes, frutas e fazem a extração do açaí e do murumuru foram despejados em uma ação policial, retornando no ano seguinte.
Desde então, os conflitos acontecem envolvendo o gerente da fazenda, Marcos Bengtson, que é filho de Josué Bengtson e irmão de Paulo Bengtson, ambos são ex-deputados federais pelo PTB. Josué é tio da senadora Damares Alves (Republicanos/DF) e pastor da Igreja Quadrangular. Já Paulo, que também é pastor, é o atual secretário de desenvolvimento econômico, mineração e energia do governo Helder Barbalho (MDB).

Após vistoria realizada pelo Incra em 2015, a autarquia deu parecer favorável à criação do assentamento. Oito anos depois da análise, os acampados ainda aguardam pela posse da terra, isso porque a batalha judicial entre o Incra e a família Bengtson atravanca a regulamentação da área, sujeitando os camponeses a uma rotina de ameaças por parte dos religiosos da Igreja Quadrangular.
A lavoura do acampamento fica próxima das pastagens onde está o gado da fazenda, em lotes separados por uma cerca. Segundo os camponeses, em janeiro de 2021, um avião sobrevoou a área dos sem-terra e pulverizou agrotóxicos, prejudicando as plantações e deixando as famílias sem alimento e fonte de renda.
A família Bengtson é envolvida em diversos outros escândalos e crimes conhecidos em todo o Pará. Josué foi cassado por corrupção no crime que ficou conhecido como a “Máfia das Ambulâncias” em 2018. Segundo denúncias do Ministério Público Federal (MPF), o pastor direcionava verbas a municípios, onde licitações eram fraudadas e o dinheiro era depositado na conta dele e da igreja que comanda.
Em maio deste ano, um avião pertencente à Igreja do Evangelho Quadrangular foi apreendido pela Polícia Federal com 290 kg de maconha.
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Marcos Bengtson é acusado de ser o mandante do assassinato do agricultor sem-terra José Valmeristo Soares, conhecido como Caribé, em 2010. A morte foi precedida de sessões de tortura. Um outro trabalhador rural, João Batista Galdino conseguiu escapar da emboscada e na ocasião, Marcos Bengtson chegou a ser preso, mas atualmente responde o processo em liberdade.

Em outubro de 2015, dois jovens foram vítimas de uma emboscada, um deles levou um tiro de raspão e o outro foi ferido com coronhadas no rosto. Em abril de 2022, os acampados denunciaram o descumprimento a um acordo feito por meio da Vara Agrária de Castanhal para que houvesse o respeito em relação a área desafetada. Segundo os acampados, o conflito permaneceu e o fazendeiro entrava na área com gado e máquinas destruindo as roças.
Assim como o pai e o irmão, Marcos também é pastor e em suas redes sociais se intitula como “servo de Jesus Cristo”.
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