Afinal, quem será o sucessor de Helder no governo do Pará?

Quem ameaça o projeto hegemônico da família Barbalho a não ser a megalomania e a empáfia do atual governador do Pará?

O governador do Pará, Helder Barbalho em foto com a bandeira do Pará ao fundo.
O governador do Pará, Helder Barbalho — Foto: Governo do Pará/Divulgação

A sucessão de Helder Barbalho é tida como certa. No que está posto até agora, ele deixará o governo para disputar uma vaga ao senado ou para ser vice de Lula, em 2026, deixando a atual vice-governadora Hana Ghassan completar o seu mandato até 2026, quando supostamente ela seria candidata à reeleição, para caso algo saia fora do script, Helder volte a disputar o governo do Pará em 2030. Mas será que é isso que a classe política e o povo paraense quer?

No artigo anterior, quando reproduzimos a fala de um empresário dizendo que Helder Barbalho já havia escolhido seu sucessor, acabamos não explicitando quem seria, pois acabamos contextualizando a estratégia de famílias, como a dele, que se tornam oligarquias poderosas para se manterem no poder por muitos anos.

Nessa contextualização, que inclui o momento atual da política paraense, notamos que o interesse de Helder talvez seja realizar um antigo sonho de seu pai, Jader Barbalho, de ser mais do que um líder local, mas também nacional, chegando a disputar a vice-presidência do Brasil, coisa que só o ex-governador Almir Gabriel conseguiu, em 1989.

Os rumores de que Helder pode ser indicado pelo MDB como vice-presidente numa eventual chapa com Lula, em uma provável busca pela reeleição presidencial em 2026, está sendo cogitada localmente e ganhou notinhas em jornalões como o Estadão, que já ventilou essa possibilidade por pelo menos duas vezes.

PESQUISA NACIONAL E CARNAVAL CARIOCA

Numa pesquisa encomendada pelo Palácio do Planalto, o nome de Helder aparece como o governador mais bem avaliado do Brasil. Bastou isso para que atentos observadores concluírem que as matérias patrocinadas pelo governo do Pará em jornais de circulação nacional, como O Globo, bem como o anúncio de que o governo patrocinará a escola de samba “Grande Rio”, que prometeu que fará uma homenagem ao estado do Pará, no carnaval carioca de 2025, são estratégias para dar visibilidade ao “rei do Norte” para fora dos limites do estado do Pará.

Ao apresentar o “negócio” fechado com o governador, o presidente da referida escola de samba fez questão de saudar Helder, que estava presente na Marquês de Sapucaí com sua esposa e o filho mais velho.

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100 PREFEITOS

Outro elemento desta fórmula para obter mais visibilidade e credenciamento ao seu nome nacionalmente é fazer com que seu partido, o MDB eleja 100 prefeituras, das 144 existentes no Pará, nas eleições de outubro próximo. Os números são ousados e demandam mexidas no tabuleiro das eleições, que vão da cooptação de todos os prefeitos bem avaliados nos seus respectivos municípios, até a sedução de prefeitos e candidatos de partidos de oposição, como o PL, com potencial de elegerem-se.

Essa engenharia política conta com o apoio do irmão, Jader Filho, que além de ser o presidente do MDB no Pará, usa os recursos e promessas de “seu” Ministério das Cidades para aplicar o chamado “Canto da Sereia” e atrair todos os prefeitos possíveis para o MDB e, junto com o governador, ampliar os currais eleitorais do partido de forma megalomaníaca, esvaziando os demais partidos de sua base aliada e até de oposição, como já foi dito acima.

O SERMÃO PARA A MANADA

Ocorre que em diversos municípios paraenses, onde a disputa local supera as estratégias nacionais e as vontades de caciques estaduais, há pré-candidatos que não aceitam unirem-se em prol do desejo de quem quer que seja, nem mesmo o de Helder e acabam abandonando ou sendo limados do projeto da família Barbalho, que busca impor, na marra, uma aliança entre a água e o óleo. Exemplo disso pode ser comprovado em Parauapebas, onde recentemente o governador esteve reunido com sua base de apoio e propôs que todos os pré-candidatos se unissem, usando para tal uma analogia com o ditado popular: catitu fora da manada é comida de onça.

A mensagem foi direcionada aos pré-candidatos de sua base aliada em Parauapebas que, somadas todas as suas intenções de votos, ficam muito abaixo do pré-candidato a prefeito do PL, o vereador Aurélio Goiano, que lidera a corrida pela sucessão do prefeito Darci Lermen (MDB), aliado de Helder e com uma rejeição alta, depois de 4 mandatos (15 anos) no poder municipal.

A última pesquisa DOXA confirma o que outras já realizadas em Parauapebas já haviam revelado: O adversário de Helder é o favorito para vencer e se tornar o próximo prefeito de um dos mais ricos e importantes municípios do Pará e que está no topo entre os que mais arrecada, sobretudo pela extração e produção de minérios, bem como pela pecuária.

Depois disso, o que já não havia condições de juntar, arrebentou de vez. Os pré-candidatos a prefeito de Parauapebas traçaram cada um o seu caminho e estão tocando reuniões em busca de se fortalecerem, pois assim como em outros municípios, os “aliados” já foram avisados que só terão apoio de Helder, aqueles que estiverem melhor posicionados nas pesquisas.

Ou seja, Helder deixa claro que tirando seus familiares, ele não tem parceiros de verdade na política e muito menos nas próximas eleições, onde em tese, já não precisa atender pedidos de ninguém, além de quem está na esfera nacional, onde busca ser aceito. Por aqui, ainda resta bater a meta que propagandeou – 100 prefeitos – e só absorverá quem provar que tem votos e capacidade – sobretudo financeira – de disputar e vencer as eleições, para que ele diga ao mundo que foi que foi o governador brasileiro que mais elegeu prefeitos no país, em termos proporcionais.

Assim, em muitos municípios, os políticos de carreira decepcionados e abandonados se alinham com quem não aceita a submissão à família Barbalho, como estratégia, e rebelam-se, porém em silêncio – passando a pensar e construir alternativas para sua própria sobrevivência política. Muitos destes são prefeitos em busca da reeleição ou que querem eleger seus sucessores e para tal fingem ainda estarem fazendo o jogo de Helder, mas buscam apenas manter os repasses para seus municípios, assim como esperam que o “rei do Norte” deixe o cargo para poderem quebrar os grilhões e embarcarem em outro projeto político menos concentrador de poder e dinheiro, bem como serem respeitados e ouvidos como líderes políticos de seus municípios e regiões, onde muitos esperam dar voos mais altos, como para a ALEPA e Câmara dos Deputados.

Assim, concluímos que o candidato que Helder prepara para sucedê-lo, não partirá de sua cozinha e sim de quem for capaz de reunir esse exército de lideranças políticas e empresariais que não aguentam mais tanta centralização de poder e empáfia, e buscam um novo projeto político, onde não estejam o tempo todo subjugados e impedidos de ir além dos ditames impostos pela família Barbalho.

Para finalizar, antes que alguém diga que “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, para insinuar que é mais inteligente obedecer quem está no poder, cabe lembrar que nas eleições de 2022, muitos caciques caíram, como revelou o jornalista Sérgio Quintella, que fez uma matéria imperdível na revista VEJA, com o título: “A longa lista de caciques que naufragaram nas urnas”.

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