“A farsa do governador do Pará” na crítica da líder ameaçada e a ostentação do indígena governista

Ubirajara Nazareno Sompré e Auricélia Arapiun.
Ubirajara Nazareno Sompré e Auricélia Arapiun. Dois indígenas paraenses muito distintos em suas manifestações públicas.

A mais sóbria e lúcida parte da sociedade paraense anda envergolhada diante tantos fatos que só vem à tona pelas redes sociais e depois, por alguns pouquíssimos veículos de imprensa alternativa e independente.

A chamada velha imprensa até chegou à era dos blogs e portais de conteúdo, mas seus contratos comerciais e as relações políticas impedem que as notícias que incomodam os poderosos, cheguem aos leitores e à opnião pública por seus canais.

Um dos fatos que pouco ganhou divulgação no noticiário paraense foi a forma com que o secretário-adjunto (Ostentação) da secretaria de Estado dos Povos Indígenas do Pará (SEPI), Ubirajara Nazareno Sompré aparece bebendo, cantando e dançando na beira de uma piscina particular, contando dezenas de cédulas de R$100 reais.

Ele e a titular da pasta, a líder indígena Puyr Tembé são ligados ao PT e assumiram esse ano o comando da secretaria criada por Helder Barbalho. A nomeação de Puyr Tembé e a de Nazareno Sompré foi feita pela vice-governadora Hana Ghassan Tuma, no mês de Março deste ano, quando ela estava no cargo de governadora em exercício, já que o governador estava viajando.

Do outro lado, temos a manifestação da líder indígena Auricélia Arapiuns denunciando o assassinato do seu povo, de defensores dos Direitos Humanos e de ambientalistas, com a contundente acusação de que o governador Helder Barbalho é uma farsa. A líder indígena também criticou o fato dos povos tradicionais e movimentos sociais não terem voz e nem vez na Cúpula da Amazônia, evento que reúne governantes e apenas convidados destes nos dias 07 e 08 de Agosto em Belém.

A fala de Auricélia foi feita na Aldeia Cabana e ecoa nos grupos de whatsapp e foi gravada pela jornalista Simone Romero, que por sua vez, queixou-se da invisibilidade dos eventos realizados pelos movimentos sociais e nas ruas, paralelos aos “Diálogos Amazônicos” e da “Cúpula Amazônica”, realizados no conforto das centrais de ar condicionado, do Hangar Centro de Convenções da Amazônia.

Auricélia, que foi ameaçada de morte recentemente, disse mais: Que Helder está com as mãos sujas de sangue, lembrando que foi ele enquanto governador do Pará, o estado recordista em assassinato de indígenas, quem decretou o Dia do Garimpeiro no Pará, no mesmo momento em que ocorriam diversos crimes cometidos por eles, em terras índigenas ocupadas ilegamente por garimpeiros.

AMEAÇAS E A REAL SITUAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS NO OESTE PARAENSE

No dia 3 de Março deste ano, a coordenadora do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (CITA), Auricélia Arapiun, denunciou estar enfrentando ameaças de morte por parte de indivíduos ligados à exploração ilegal de madeira na Reserva Extrativista Tapajós e Arapiuns, localizada em Santarém, no oeste do Pará. A líder indígena, juntamente com outras autoridades, incluindo a presidenta e vice-presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares de Santarém (STTR), Ivete Bastos e Edilson Silveira, e Maria José, presidente da Tapajoara, têm sido alvos de ameaças desde que se posicionaram contra a extração ilegal de madeira na região e defenderam o direito à consulta prévia, livre e informada no território da Reserva.

A Reserva Extrativista Tapajós e Arapiuns tem sido há muito tempo alvo da exploração madeireira ilegal, bem como da invasão de terras por grileiros. Essas atividades ilícitas têm resultado em conflitos com as comunidades tradicionais locais, além de ameaçar a rica biodiversidade da região.

A denúncia de Auricélia Arapiun ganhou ampla repercussão nas redes sociais, levando diversas instituições e entidades a manifestarem solidariedade à líder indígena e a demandarem uma investigação completa das ameaças. Organizações como a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), a Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará (Fepipa), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e a Arquidiocese de Santarém expressaram seu apoio à Auricélia Arapiun, enfatizando a importância de seu trabalho na proteção dos povos indígenas e de seus territórios.

A líder indígena relatou que já tomou medidas legais, contatando o Ministério Público Federal (MPF) para cobrar ações contra as recentes ameaças. Ela enfatizou a persistência das ameaças desde 2021 e apelou por medidas efetivas de proteção.

A Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) também se pronunciou sobre as ameaças, condenando veementemente os ataques direcionados a Auricélia Arapiun. O Diretório Acadêmico Indígena da Ufopa expressou sua solidariedade à líder indígena e ressaltou a importância de proteger os defensores do território e do direito à consulta livre, prévia e informada.

As organizações e entidades continuam a pressionar as autoridades para que as ameaças sejam investigadas e para que medidas de proteção sejam implementadas a fim de garantir a segurança das vítimas e a preservação dos territórios indígenas na Reserva Extrativista Tapajós e Arapiuns.

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