Belém se prepara para receber, nos dias 29 e 30 de março, o espetáculo “Com os bolsos cheios de pão”, da Cia. Cisco, de São Paulo. O espetáculo faz duas sessões com entrada franca, no Teatro Margarida Schivasappa. Haverá oficina e mesa de debate que estão com inscrições abertas e gratuitas.
Alguns dos maiores dilemas da sociedade contemporânea estão presentes na obra, criada pelo dramaturgo e jornalista romeno Matei Visniec.
“É um texto bastante atual por levantar muitas provocações. Até que ponto não ficamos inertes diante dos dramas dos outros? Será que apenas reagir passiva ou remotamente nas redes sociais é suficiente para os problemas que clamam por nossa intervenção? Quantos cães deixamos cair no fundo do poço?”, indaga o diretor Vinicius Torres Machado.
Visniec, naturalizado francês, escreveu o texto em 1980, quando seu país vivia sob um brutal governo autoritário. A peça nasceu de uma história real, quando o autor, apressado a caminho do trabalho, passou por um poço abandonado e ficou chocado ao descobrir um cachorro vivo. O animal latiu pedindo ajuda, mas Visniec só teve tempo de ver que era um cão branco.
No enredo, o homem de bengala, interpretado pelo ator paraense Edgar Castro, e o homem de chapéu, vivido por Donizeti Mazonas, travam uma longa conversa sobre o drama vivido pelo animal, mas não demorará para se desentenderem até entre si. Em cena, em cima do poço, os dois homens, apesar da indignação que manifestam, não socorrem o animal, emaranhados que estão em embates verbais e disputas personalistas.
Para Edgar Castro, a obra nos remete ao atual cenário político e social brasileiro. “Ao ler a peça, buscando iluminar aspectos da nossa realidade encontramos no embate verbal entre as duas personagens da obra uma possibilidade de refletir sobre coisas que estamos vivendo, como um excesso de opinião no diálogo público e uma dificuldade de escuta do outro, que resulta em uma ausência de ações efetivas sobre problemas sociais. É como se a indignação que move as opiniões se dissipasse na hora de agir. Essa foi a via que adotamos para acessar esse texto teatral que admiramos tanto”.
Oficina pública — Além dos dois dias de espetáculos, a Cia.Cisco promove a oficina “A escuta do corpo”, no dia 30, de 9 às 13h, e, logo em seguida, às 17h, a mesa pública “O trabalho do intérprete teatral como ofício”, ambos no Teatro Margarida Schivasappa.
Com um enfoque maior no corpo e sua relação com o espaço, a oficina ativa o estado cênico através do encontro e no jogo com o outro, disponibilizando o corpo para a improvisação e a criação da cena fundamentada no trabalho do ator. A mesa pública propõe uma reflexão a respeito da formação do intérprete teatral sob a perspectiva do ofício.
Toda a programação integra o “Escambo: Rede Parente”, projeto contemplado pela Bolsa Funarte de Teatro Myriam Muniz. Depois da capital paraense, o projeto vai circular por espaços culturais de Manaus (AM), Campo Grande (MS) e São Paulo (SP), reunindo coletivos de teatro na promoção de mais de 50 atividades.
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