Mais de quatro décadas após o registro do primeiro caso de AIDS no Brasil, o país comemora importantes avanços no tratamento de HIV, especialmente por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Hoje, uma pessoa que segue rigorosamente o tratamento antirretroviral pode tornar o vírus indetectável e intransmissível em relações sexuais, além de planejar a maternidade ou paternidade sem risco de transmissão.
De acordo com o infectologista Julius Monteiro, membro da Rede Nacional de Genotipagem do HIV e da Câmara Técnica Assessora em Antirretrovirais do Ministério da Saúde, o SUS garante acesso gratuito a medicamentos e acompanhamento especializado para pessoas que vivem com HIV/AIDS. No Pará, por exemplo, o atendimento é realizado em Serviços Ambulatoriais Especializados (SAEs), Centros de Testagem e Aconselhamento (CTAs) e na Unidade de Referência Especializada em Doenças Infecciosas e Parasitárias Especiais (Uredipe), localizada em Belém.
Com a descentralização dos serviços, pacientes em condições estáveis também podem acessar tratamentos em Unidades Básicas de Saúde ou de Saúde da Família, o que amplia o alcance da assistência.
Desde o lançamento do primeiro antirretroviral, a zidovudina (AZT), em 1987, os medicamentos para HIV passaram por enormes melhorias. Atualmente, o tratamento inicial padrão inclui dois comprimidos diários combinando Tenofovir, Lamivudina e Dolutegravir, de acordo com diretrizes internacionais da OMS e IAS (International AIDS Society). Esses medicamentos são mais seguros, apresentam menos interações com outros fármacos e possuem efeitos colaterais reduzidos, facilitando a adesão.
“Hoje, o paciente pode pactuar o horário de uso com sua equipe médica, o que contribui para a continuidade do tratamento”, destacou Monteiro.
O infectologista também ressaltou os benefícios de alcançar a supressão viral. Uma vez indetectável, o paciente não transmite o vírus sexualmente e evita complicações relacionadas à imunodepressão. Segundo o novo Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde, lançado em 2024, o ideal é iniciar o tratamento em até sete dias após o diagnóstico, visando a supressão viral em até seis meses.
Prevenção e Acolhimento: Eixos Essenciais no Combate ao HIV
Durante o Seminário Prevenção Combinada: Quebrando Barreiras e Construindo Pontes, Monteiro também destacou estratégias preventivas, como a profilaxia pré-exposição (PrEP), pós-exposição (PEP), uso de preservativos e testagem regular. A “Mandala da Prevenção Combinada” reúne essas e outras ações disponíveis gratuitamente no SUS.
Outro tema relevante foi o acolhimento no serviço de saúde. Segundo Beto Paes, técnico da Coordenação Estadual de IST/AIDS da Sespa, a falta de acolhimento ou discriminação ainda afastam muitos pacientes do tratamento. “Acolhimento verdadeiro é essencial para vincular a pessoa ao serviço e assegurar sua qualidade de vida”, afirmou Paes.
Combinando avanços no tratamento, ampliação do acesso e ações de prevenção, o Brasil dá passos importantes na luta contra o HIV, reforçando o compromisso com a saúde e a dignidade de quem vive com o vírus.
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