Comunidade paralisa obras da Avenida Liberdade e exige diálogo com o governo sobre impactos aos moradores da região

Apesar das promessas de infraestrutura sustentável, os moradores questionam o impacto real da avenida

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A construção da Avenida Liberdade, que pretende ser uma nova via expressa na Região Metropolitana de Belém, foi paralisada após uma Ação Popular por Justiça Climática e Socioambiental movida pela comunidade tradicional ribeirinha Nossa Senhora dos Navegantes. A medida, reivindicada pela Associação de Moradores da área, foi motivada por críticas à falta de diálogo entre o Governo do Estado do Pará e os moradores diretamente impactados pelas obras, que incluem o Lago do Jacaré e outras áreas ecologicamente sensíveis.

Comunidade reivindica diálogo e proteção ambiental

D. Diana dos Santos Araújo, liderança da comunidade ribeirinha, enfatizou que a construção da avenida tem resultado em danos irreversíveis, incluindo o aterramento de igarapés e áreas de várzea, além da destruição da vegetação nativa e a extração de madeiras nobres de forma irregular. Segundo ela, a obra avança sobre a região sem a devida transparência e com uma série de riscos ambientais e sociais, ameaçando o modo de vida das comunidades tradicionais.

“A mata está sendo destruída, a madeira de lei é retirada e nós, moradores, não temos qualquer garantia de proteção ambiental das áreas remanescentes. Além disso, não há uma titularidade assegurada para a terra contra futuras ocupações e a especulação imobiliária. Estamos sendo prejudicados, e não vamos nos calar”, afirmou Diana.

Projeto rodoviário e suas especificações

A Avenida Liberdade foi projetada para ter uma extensão de 13,3 quilômetros, com duas faixas de tráfego em cada sentido e acostamentos de 2,5 metros em ambos os lados. O projeto contempla faixas exclusivas para ciclistas, pavimento ecológico na ciclovia e iluminação com energia solar. A via contará ainda com sistema de videomonitoramento de tráfego, barreiras para impedir o acesso de pedestres e um total de seis viadutos e pontes, reforçando a proposta do governo de modernizar a infraestrutura de transporte da região com foco em sustentabilidade.

Apesar das promessas de infraestrutura sustentável, os moradores questionam o impacto real da avenida.

Para os moradores da região esse projeto nada mais é do que uma rodovia na contramão das prioridades climáticas e ambientais. Enquanto o governador Helder Barbalho discursa sobre a preservação da floresta em fóruns internacionais, como a COP28, obras como essa avançam sobre a floresta na Região Metropolitana de Belém.

Impacto ambiental e ameaça à biodiversidade local

O projeto da Avenida Liberdade corta regiões de alta biodiversidade, ameaçando habitats de espécies como ararajubas, macacos da noite, jaguatiricas e capivaras, que vivem nas margens do Rio Guamá e em áreas fluviais conectadas por igarapés e furos essenciais à bacia hidrográfica do Murucutu. Os moradores denunciam que o fluxo estimado de 24 mil veículos diários deve aumentar a poluição sonora, causar atropelamentos de animais e aumentar a pressão sobre ecossistemas fragilizados. Além disso, eles alertam para o impacto sobre os mananciais Água Preta e Bolonha, fontes que abastecem toda a cidade de Belém com água potável.

Para a Associação de Moradores, a construção ameaça transformar a área em uma nova Avenida Perimetral, com efeitos de urbanização caótica e degradação ambiental, e lança questionamentos sobre a real necessidade de uma rodovia de alto impacto ambiental em uma área de ecossistemas tão sensíveis.

Próximos passos e expectativas da comunidade

Com a paralisação das obras, a comunidade de Nossa Senhora dos Navegantes e outros moradores da área esperam abrir um canal de negociação com o governo estadual. Eles buscam garantias de proteção ambiental para os remanescentes florestais e direitos de titularidade para que os territórios não sejam ocupados indiscriminadamente. Segundo Diana dos Santos Araújo, a comunidade pede que o governo reavalie o projeto, assegurando medidas que contemplem o respeito ao ecossistema local e ao modo de vida das comunidades que dependem das águas e florestas do entorno.

A paralisação temporária representa, para os moradores, uma oportunidade de repensar o futuro do desenvolvimento da região e de debater um modelo de infraestrutura que respeite a justiça climática e o direito ao território.

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