A saúde pública de Goianésia do Pará, município com pouco mais de 27 mil habitantes, enfrenta uma crise sem precedentes e tornou-se alvo de denúncias graves encaminhadas ao Ministério Público do Pará (MPPA). Documentos, vídeos e relatos apontam para possíveis irregularidades na gestão da Secretaria Municipal de Saúde, que teriam resultado no colapso do atendimento à população e no suposto desvio de milhões de reais em recursos públicos.
Leia na íntegra a o contrato de prestação de serviço da empresa:
No centro das acusações está a secretária municipal de Saúde, Ana Cláudia Arquino de Araújo Ramos, apontada como responsável por autorizar pagamentos, validar contratos e supervisionar serviços que, segundo as denúncias, não estariam sendo efetivamente prestados. O que antes eram reclamações recorrentes em unidades de saúde transformou-se numa representação formal protocolada pela Câmara Municipal.
Moradores relatam a ausência de atendimento médico regular, fechamento das Unidades Básicas de Saúde em determinados dias da semana e a inexistência de plantões às sextas-feiras. A situação é ainda mais crítica na pediatria: apesar de contratos considerados milionários, o município contaria com apenas uma profissional para atender toda a demanda infantil.
Em depoimento à reportagem, uma moradora descreveu a dificuldade enfrentada para conseguir atendimento para a filha doente. Segundo ela, o hospital municipal encaminha os pacientes para as UBS, que, por sua vez, não funcionam, forçando as famílias a recorrerem a farmácias ou retornarem para casa sem assistência. Há relatos, inclusive, de mortes associadas à falta de atendimento.
As denúncias ganharam maior gravidade após a Câmara Municipal apontar o repasse de R$ 3.818.354,92 à empresa Leonardo de Lopes, contratada desde março para prestar serviços de pediatria. Vistorias indicariam que nenhum atendimento foi realizado, apesar dos pagamentos efetuados. A responsabilidade pela fiscalização dos serviços e validação dos pagamentos caberia à própria secretária municipal de Saúde.
Durante a apuração, a equipa de reportagem tentou localizar a empresa no endereço informado no contrato, mas encontrou apenas residências particulares. Moradores afirmaram nunca ter ouvido falar da empresa, levantando suspeitas de que se trate de uma firma sem atuação real no município.
Outro ponto considerado grave é a denúncia de que a mesma empresa contratada para prestar os serviços médicos também seria responsável pela auditoria interna da Secretaria de Saúde, o que caracterizaria um conflito de interesses, ao permitir que o fiscalizado controle a própria fiscalização.
A crise se agravou ainda mais após a divulgação de um vídeo que mostra o vereador Edmar Ramos, marido da secretária de Saúde, participando da entrega de ambulâncias ao município. O contrato previa veículos ano 2025, zero quilômetro, mas denúncias indicam que as ambulâncias entregues seriam fabricadas em 2020.
Além disso, profissionais da saúde denunciam salários atrasados, exames suspensos e falta de insumos básicos, enquanto contratos milionários seguem sendo pagos. A secretária municipal de Saúde foi procurada para comentar as acusações, mas, após informações contraditórias de assessores sobre o seu paradeiro, recusou-se a receber a reportagem.
Diante da gravidade dos fatos, a população aguarda a atuação do Ministério Público, que deverá apurar as denúncias, verificar a legalidade dos contratos e identificar possíveis responsabilidades administrativas e criminais.









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