O território Amanayé, localizado em Goianésia do Pará, registra avanço da extração ilegal de madeira enquanto aguarda há oito décadas a demarcação oficial. Segundo relatório do Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex), 47% da madeira extraída no Pará entre agosto de 2023 e julho de 2024 foi retirada sem autorização, totalizando mais de 20 mil hectares explorados irregularmente. No território, 2.026 hectares foram afetados, um aumento de 152% em comparação com o período anterior.
A reserva foi criada em 1945, mas segue sem demarcação. A indefinição fundiária favoreceu invasões, grilagem e a expansão de atividades ilegais, incluindo extração madeireira e avanço da soja em áreas tradicionalmente ocupadas pela comunidade.
Impacto regional e escalada da exploração
Municípios como Paragominas, Dom Eliseu e Goianésia do Pará concentram quase metade da exploração madeireira irregular identificada no estado. Em Goianésia, a retirada não autorizada cresceu 124%, o que intensifica a pressão sobre a área indígena.

“Nosso povo fica à mercê do processo de demarcação enquanto os fazendeiros ampliam seus campos e a extração ilegal de madeira. A devastação continua muito forte”, afirma Ronaldo Amanayé, liderança do povo e diretor executivo da Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará (Fepipa).
Áreas protegidas sob pressão crescente
A exploração irregular em áreas protegidas aumentou 165% no Pará. Desse total, 88% ocorreu na Reserva Amanayé, hoje identificada como o maior ponto de devastação irregular entre as áreas analisadas. A Floresta Nacional de Caxiuanã aparece em seguida, com 281 hectares explorados sem permissão.
Para Camila Damasceno, pesquisadora do Imazon, a situação exige ação imediata. “A ilegalidade atinge diretamente povos e comunidades tradicionais. A ausência de manejo destrói a floresta e rompe o equilíbrio ambiental. É urgente reforçar a fiscalização e incentivar atividade legalizada, que reduz impactos e fortalece a economia.”
Cobranças oficiais e decisões pendentes
Em outubro, a Fepipa enviou um ofício ao Governo Federal solicitando a homologação imediata da área e a desintrusão da Terra Indígena Sarauá, homologada em 2011, mas ainda ocupada irregularmente. O documento aponta que já existem decisões judiciais confirmando que o território é de domínio da União e deve ser formalmente registrado em favor do povo Amanayé.
“O que pedimos é o direito de existir, permanecer e manifestar nossa cultura. É um pedido de humanidade, não de conflito”, destaca o ofício assinado por Ronaldo Amanayé e Concita Guaxipiguara Sompré, presidente dos articuladores da Fepipa.
Educação e segurança afetadas
A ausência de definição fundiária afeta diretamente o acesso à educação escolar indígena. Há falta de transporte, professores bilíngues e estrutura adequada, em desacordo com a Constituição Federal, a LDB e a Convenção 169 da OIT. A incerteza também facilita a presença de grileiros, facções criminosas e madeireiros, aumentando riscos de violência e afetando práticas culturais essenciais.
A situação se conecta ao histórico do povo Sarauá, retirado compulsoriamente de sua terra tradicional, revelando um padrão de omissão que atravessa gerações.
Tema ganha visibilidade na COP30
Durante a COP30, sediada em Belém, o território Amanayé evidencia um dos principais desafios da agenda socioambiental brasileira: garantir a proteção de quem preserva a floresta. O relatório do Simex e o ofício da Fepipa mostram distância entre o reconhecimento formal dos direitos indígenas e sua implementação.
“Cada árvore derrubada é um pedaço da nossa história que desaparece. O futuro é ancestral”, resume Ronaldo.
Enquanto a homologação não se concretiza, a floresta segue sob risco. A espera já dura 80 anos.











Deixe um comentário