Secretário-Geral da ONU pede “coragem política” e ação imediata na COP30: “O limite de 1,5°C é uma linha vermelha para a humanidade” - Estado do Pará Online

Secretário-Geral da ONU pede “coragem política” e ação imediata na COP30: “O limite de 1,5°C é uma linha vermelha para a humanidade”

António Guterres alertou que o mundo falhou em conter o aquecimento global e cobrou dos países um “plano de resposta ousado e crível” para evitar o colapso climático.

Foto: Ueslei Marcelino/COP30

Em um dos discursos mais esperados da Cúpula dos Líderes da COP30, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, fez um apelo contundente aos chefes de Estado presentes em Belém nesta quinta-feira (6). Ele afirmou que o planeta já ultrapassou os limites de segurança climática e que é preciso agir com velocidade e escala para manter vivo o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C.

Foto: Ueslei Marcelino/COP30

“O limite de 1,5°C é uma linha vermelha para a humanidade. Deve ser mantido ao nosso alcance”, declarou Guterres. “A ciência mostra que um pequeno avanço além dessa meta já trará consequências dramáticas, com ecossistemas ultrapassando pontos de não retorno e bilhões de pessoas expostas a condições inabitáveis.”

O secretário-geral agradeceu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao presidente da COP e ao povo brasileiro pela hospitalidade e destacou a liderança do Brasil no debate climático. “Presidente Lula, o senhor chamou esta de a ‘COP da Verdade’. Concordo plenamente”, disse.


“Falhamos em manter o 1,5°C”

Guterres foi direto ao afirmar que a comunidade internacional falhou em conter as emissões e que, segundo a ciência, um “excesso temporário” acima do limite de 1,5°C é inevitável já no início da década de 2030. Ele alertou que esse aumento poderá agravar crises humanitárias, ameaçar a segurança global e destruir ecossistemas inteiros.

“Cada fração de grau significa mais fome, deslocamento e perdas — especialmente para os que menos contribuíram para o problema. Isso é uma falha moral e uma negligência mortal”, afirmou.


Chamado à ação: “Chega de negociações, é hora de implementação”

O chefe da ONU destacou que, embora os novos compromissos nacionais (NDCs) representem avanços, eles ainda são insuficientes e colocam o planeta em um caminho de aquecimento superior a 2°C.

Ele defendeu um “plano de resposta global” para reduzir as emissões, eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e ampliar o financiamento climático, principalmente para os países em desenvolvimento.

“Não é mais hora de negociações. É hora de implementação, implementação e implementação”, enfatizou Guterres.

Entre as medidas urgentes, o secretário-geral propôs:

  • Pico imediato das emissões globais e redução drástica nesta década;
  • Aceleração da transição energética, com foco em renováveis, eficiência e redes modernas;
  • Eliminação progressiva do carvão e dos subsídios aos combustíveis fósseis;
  • Combate ao desmatamento e ao metano;
  • Financiamento climático justo, incluindo alívio da dívida e fortalecimento do Fundo de Perdas e Danos.

“O que falta é coragem política”

Guterres reconheceu o avanço da chamada “revolução da energia limpa”, destacando que a energia solar e eólica já são as mais baratas do mundo e atraíram US$ 2 trilhões em investimentos em 2024, superando os combustíveis fósseis.

“A economia já mudou. A energia limpa está vencendo em preço, desempenho e potencial. O que ainda falta é coragem política”, disse.

Ele criticou as subvenções aos combustíveis fósseis e o lobby das grandes corporações, que, segundo ele, “enriquecem às custas da devastação climática”.


Justiça climática e liderança indígena

O secretário-geral também defendeu que a transição para uma economia verde seja justa, com apoio direto aos países e comunidades mais vulneráveis. Ele pediu um “pacote de justiça climática” que garanta financiamento acessível para adaptação, proteção aos trabalhadores e valorização dos povos indígenas.

“Os povos indígenas devem liderar o caminho. Seu conhecimento e participação plena iluminam a rota para um planeta habitável”, afirmou.

Encerrando o discurso, Guterres disse que as escolhas tomadas em Belém definirão o futuro da humanidade.