Lula lança Fundo Florestas Tropicais para Sempre durante Cúpula de Líderes da COP30 em Belém - Estado do Pará Online

Lula lança Fundo Florestas Tropicais para Sempre durante Cúpula de Líderes da COP30 em Belém

A inciativa visa financiar medidas de preservação das florestas em países subdesenvolvidos, que deverão seguir metas de redução do desmatamento para acessar o recursos.

PHOTO PAULO MUMIA

O governo brasileiro lançou oficialmente, nesta quarta-feira (6), durante a Cúpula de Líderes em Belém, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês) — principal aposta do país para criar um mecanismo internacional de pagamento a nações que preservam seus biomas tropicais. Embora não esteja na pauta formal da Conferência do Clima, o anúncio foi feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e reforça a estratégia diplomática do Brasil rumo à COP30.

A proposta cria um modelo de remuneração contínua pela floresta em pé, reconhecendo o papel essencial das florestas tropicais — como Amazônia, Congo e Indonésia — na regulação climática e na absorção de carbono. A iniciativa pretende captar até US$ 125 bilhões em investimentos, com retorno financeiro gerado por aplicações de baixo risco. A diferença entre o rendimento e o valor pago aos investidores (o spread) será destinada aos países que comprovarem conservação de suas florestas, proporcionalmente à área preservada.

“O fundo de florestas tropicais para sempre, TFFF (na sigla em inglês), que estamos lançando hoje, é uma iniciativa inédita. Pela primeira vez na história os países do Sul Global terão protagonismo em uma agenda de floresta”, discursou o petista durante o evento.

“A meta é que cada país possa receber até US$ 4 por hectare preservado. Parece modesto, mas estamos falando de 1,1 bilhão de hectares de florestas tropicais distribuídos entre 73 países em desenvolvimento”, acrescentou. A preservação da mata será monitorada via satélite.

“Os lucros gerados serão repartidos entre os países com florestas tropicais e os investidores. Os recursos irão diretamente para os governos nacionais, que poderão garantir programas soberanos de longo prazo. dos recursos poderão ser destinados aos povos indígenas e povos locais”, explicou o presidente.

O Brasil propõe transformar o TFFF em uma espécie de “renda florestal global”, tornando financeiramente vantajoso manter a floresta viva. A meta é oferecer um fluxo estável e previsível de recursos, estimado em cerca de US$ 4 por hectare preservado ao ano.

Diferente do REDD+ — mecanismo da ONU baseado na redução de emissões geradas pelo desmatamento — o TFFF prevê pagamento direto pela manutenção da floresta, com critérios anuais de desempenho, monitoramento via satélite e padrões técnicos internacionais. No Brasil, o Fundo Amazônia segue modelo alinhado ao REDD+, focado em projetos e políticas públicas que comprovam queda no desmatamento. O TFFF funcionaria como complemento, ao valorizar de forma permanente a floresta em pé e com parte dos recursos destinada obrigatoriamente a povos indígenas e comunidades locais.

Como deve funcionar o fundo

A proposta prevê US$ 25 bilhões aportados por países parceiros — como Brasil, Noruega, Alemanha, Reino Unido, China e Emirados Árabes — e grandes fundações internacionais. O valor serviria de garantia para atrair mais US$ 100 bilhões do setor privado.

Os recursos não poderão ser aplicados em setores poluentes, como petróleo, carvão ou atividades ligadas ao desmatamento. O rendimento anual, estimado entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões, bancará pagamentos aos países que mantiverem taxas de desmatamento abaixo de 0,5% ao ano.

O Banco Mundial será o administrador financeiro, enquanto o TFFF cuidará do monitoramento, fiscalização e distribuição dos recursos. Ao menos 20% do valor recebido por cada país deverá ir diretamente para povos indígenas e comunidades tradicionais, responsáveis pela proteção territorial.

Críticas e preocupações

A proposta tem recebido críticas de entidades ambientais e movimentos sociais. Três pontos concentram os principais alertas:

  • dependência de investidores privados;
  • risco de distribuição desigual de recursos;
  • falta de garantias de acesso direto às comunidades locais.

Organizações como o Greenpeace afirmam que o modelo pode priorizar retorno a investidores, reduzindo o montante destinado à proteção florestal. Também cobram salvaguardas socioambientais mais robustas e transparência para evitar que recursos sejam retidos por intermediários ou aplicados em setores de impacto ambiental.

Por que o fundo é estratégico para o Brasil

O TFFF é uma das principais vitrines diplomáticas do Brasil para a COP30. O governo defende que proteger a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica não pode ser responsabilidade exclusiva dos países que abrigam esses biomas — já que os benefícios climáticos são globais.

A proposta reforça o argumento histórico de que nações desenvolvidas, responsáveis pela maior parte das emissões acumuladas de gases de efeito estufa, devem contribuir financeiramente com o Sul Global para garantir uma transição justa.

“Já exploramos demais a natureza para gerar recursos. Agora é hora de usar esses recursos para protegê-la”, afirmou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. “O fundo representa uma virada de chave.”

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