O Epol teve acesso à petição da Polícia Federal encaminhada à 4ª Vara Federal Criminal do Pará que embasou a operação de busca e apreensão no âmbito da Operação Óbolo de Caronte, realizada em setembro na capital paraense. O documento, datado de 15 de setembro de 2025, descreve um complexo esquema de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro na Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan), comandada por Ivanise Coelho Gasparim, durante o governo Edmilson Rodrigues (PSOL).
Desvios e núcleos investigados
A investigação começou após o Coaf relatar movimentações suspeitas da empresa F.A.S. Serviços Técnicos Ltda., que recebeu mais de R$ 153 milhões em contratos firmados com a Sesan e a Secretaria de Finanças (Sefin) entre 2020 e 2024. O relatório apontou saques fracionados, transferências entre empresas de fachada e circulação de dinheiro em espécie, em valores próximos ao limite de comunicação obrigatória ao sistema bancário. As operações teriam sido realizadas para burlar os mecanismos de controle e ocultar o destino dos recursos públicos.
De acordo com a PF, a F.A.S. firmou três contratos com a Sesan em 2024, que somam R$ 115 milhões, todos assinados por Jorge Quintairos Jacob, sócio da empresa, e por Ivanise Gasparim. Os investigadores classificaram o grupo em dois núcleos: o empresarial, composto por Jorge e seu filho Igor Jacob, além de Nivaldo Barros Filho; e o público, formado por servidores da Sesan responsáveis pela liberação de pagamentos e pela fiscalização dos contratos. A petição detalha que os repasses eram seguidos por saques imediatos e redistribuição clandestina dos valores, configurando o ciclo típico de lavagem de capitais.
Contratos, saques e provas apreendidas
Entre os contratos sob análise está o Programa de Macrodrenagem da Bacia Hidrográfica do Mata Fome (Prommaf), que recebeu R$ 132,7 milhões do PAC Seleções, do Governo Federal. O relatório da PF afirma que a F.A.S. teria recebido e sacado valores antes mesmo da abertura de editais, o que indica possível pagamento antecipado e direcionamento de licitações. A investigação também revelou transferências para empresas sem estrutura operacional, como a Omega Construtora Eireli e a Lisboa Barros Locações, utilizadas para movimentar recursos e mascarar a destinação final do dinheiro.
Durante as diligências, a PF apreendeu R$ 601,6 mil em espécie com Jorge e Igor Jacob, após um saque monitorado na Caixa Econômica Federal do bairro Batista Campos, em novembro de 2024. O valor, segundo o inquérito, correspondia a recursos recém-creditados pela Sesan e seria repassado a agentes públicos. A análise de celulares apreendidos confirmou trocas de mensagens entre empresários e servidores antes e depois das liberações de pagamento, com uso de linguagem cifrada e exclusão de conversas para dificultar rastreamentos.
Transferências envolvendo Cláudio Puty
A petição dedica parte específica à análise de conversas entre Jorge Jacob e Cláudio Puty, então secretário de Planejamento (Segep). Segundo a PF, Jacob solicitou dados bancários a Puty em 8 de novembro de 2024, e o secretário teria encaminhado a chave Pix vinculada ao CPF de seu tio, Marcelo Gil Castelo Branco, sócio de quatro empresas privadas. No dia 11 de novembro, Jacob enviou R$ 150 mil a essa conta, e outro repasse de R$ 30 mil foi localizado posteriormente.
A PF destaca o parentesco entre Puty e Marcelo Gil e afirma ser possível inferir que Puty faz uso de contas de terceiros para movimentação financeira, com indícios de que Marcelo Gil seja um deles. Os agentes ressaltam, contudo, que o fato ainda depende de apuração complementar, não havendo no documento pedido de indiciamento ou de busca e apreensão em nome de Puty. Ele é tratado como pessoa de interesse, por indícios de transações que teriam se dado por intermédio de seu familiar.
O relatório final cita fortes indícios de corrupção ativa e passiva, fraude em licitação, lavagem de capitais e organização criminosa, destacando a necessidade de medidas cautelares como busca e apreensão e bloqueio de bens. O processo tramita sob o número 1047099-44.2025.4.01.3900 na 4ª Vara Federal Criminal do Pará.
Posição do ex-prefeito
Em nota ao Epol, o ex-prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, esclareceu que não é citado nem investigado na operação e que os contratos analisados foram assinados entre 2020 e 2024, com início anterior à sua gestão. Edmilson afirmou desejar que os fatos sejam esclarecidos “para que se reafirme a verdade e a correção dos procedimentos públicos”.
O ex-prefeito destacou ainda que sua trajetória política “sempre foi pautada pela probidade administrativa e pela ética”, lembrando que não possui condenação em 37 anos de vida pública. O Epol solicitou posicionamento do ex-secretário Cláudio Puty, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria. A reportagem também tentou contato com Ivanise Gasparim, sem sucesso.
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